“Eu respeito seu amém, você respeita meu axé?”: um estudo etnográfico sobre terreiros de candomblé como organizações de resistência à luz de um olhar decolonial

Conteúdo do artigo principal

Jefferson Rodrigues Pereira
https://orcid.org/0000-0002-2048-5979
José Vitor Palhares dos Santos
https://orcid.org/0000-0002-9190-3875
Alice de Freitas Oleto
https://orcid.org/0000-0002-2582-7413

Resumo

Este artigo tem como objetivo compreender como os terreiros de candomblé se organizam como resistência perante o racismo religioso. Para tanto, desenvolvemos uma pesquisa etnográfica em um centro de candomblé da nação Ketu Axé Oxumaré, localizado em Belo Horizonte (MG). Os dados das entrevistas foram submetidos à análise de narrativas. Os resultados sugerem que o candomblé é percebido pelos integrantes da casa de santo como uma estratégia, uma organização de sobrevivência não só física, mas também de estilos de vida subalternos. Trata-se da resistência da cultura afro-brasileira, uma resistência anticolonial que promove, por meio da religião, a pertença política de afirmação da negritude; de uma organização decolonial de sobrevivência, de manutenção e, sobretudo, de perpetuação de tradições e modos de vida nos terreiros negligenciados, aviltados, negados e subalternizados pela colonialidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Detalhes do artigo

Como Citar
Pereira, J. R., Santos, J. V. P. dos, & Oleto, A. de F. (2023). “Eu respeito seu amém, você respeita meu axé?”: um estudo etnográfico sobre terreiros de candomblé como organizações de resistência à luz de um olhar decolonial. Cadernos EBAPE.BR, 21(4), e2022–0149. https://doi.org/10.1590/1679-395120220149
Seção
Artigos

Referências

Ballestrin, L. (2013). América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, 11, 89-117. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0103-33522013000200004

Bastos, L. C., & Biar, L. A. (2015). Análise de narrativa e práticas de entendimento da vida social. DELTA: Documentação e Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, 31(4), 97-126. Recuperado de https://doi.org/10.1590/0102-445083363903760077

Birman, P. (1983). O que é umbanda. São Paulo, SP: Brasiliense.

Burawoy, M. (1979). The manufacture of consent. Chicago, IL: The Chicago University Press.

Cerqueira, G. M., & Boaz, D. N. (2021). Religious racism in Brazil: introduction. Journal of Africana Religions, 9(2), 250-258. Recuperado de https://doi.org/10.5325/jafrireli.9.2.0250

Clifford, J., & Gonçalves, S. (2011). A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro, RJ: Editora UFRJ.

Denzin, N. K. (1989) The research act (3a ed.). Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall.

Dussel, E. (2000). Europe, modernity, eurocentrism. Nepantla: Views from South, 1(3), 465-478.

Enoque, A. G., Borges, A. F., & Borges, J. F. (2016). O sagrado e o profano nas organizações contemporâneas. Revista Pretexto, 17(2), 28-41. Recuperado de https://doi.org/10.21714/pretexto.v17i2.2610

Faria, A., Abdalla, M. M. & Guedes, A. L. (2021). Podemos coconstruir um campo de gestão/administração engajado com a maioria. Revista Organizações & Sociedade, 28(98), 549-581. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1984-92302021v289804PT

Fernandes, F. B. M. (2013). Assassinatos de travestis e “pais de santo” no Brasil: homofobia, transfobia e intolerância religiosa. Saúde em Debate, 37(98), 485-492.

Fernandes, N. V. E. (2017). A raiz do pensamento colonial na intolerância religiosa contra religiões de matriz africana. Revista Calundu, 1(1), 117-136. Recuperado de https://doi.org/10.26512/revistacalundu.v1i1.7627

Flausino, V. S., Medeiros, C. R. O., & Valadão, V. M., Jr. (2018). Poder e religião: a doutrina espírita no modo de pensar dos gestores de Uberaba/MG. Revista ADM.MADE, 22(1), 58-76. Recuperado de http://dx.doi.org/10.21714/2237-51392018v22n1p058076

Fonseca, A. B., & Adad, C. J. (2016). Relatório sobre intolerância e violência religiosa no Brasil (2011-2015): resultados preliminares. Brasília, DF: Secretaria Especial de Direitos Humanos.

Franco, C., & Dias, T. B. (2021). Religião, direitos humanos e interseccionalidades: reposicionando a categoria “religião” no debate interseccional. Estudos de Religião, 35(2), 309-330. Recuperado de https://doi.org/10.15603/2176-1078/er.v35n2p309-330

Grosfoguel, R. (2008). Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos pós-coloniais: transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. Revista Crítica de Ciências Sociais, 80, 115-147. Recuperado de https://doi.org/10.4000/rccs.697

Grosfoguel, R. (2016). A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Sociedade e Estado, 31(1), 25-49. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100003

Grosfoguel, R., & Mignolo, W. (2008). Intervenciones decoloniales: una breve introducción. Tabula Rasa, 9, 29-37. Recuperado de https://doi.org/10.25058/20112742.337

Lander, E. (2005). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-americanas. Buenos Aires, Argentina: CLACSO.

Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997. (1997). Altera os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, e acrescenta parágrafo ao art. 140 do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Brasília, DF. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9459.htm

Lui, J. D. A. (2008). Os rumos da intolerância religiosa no Brasil. Religião & Sociedade, 28(1), 211-214. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0100-85872008000100011

Lundell, E. (2020). The pentecostal war against Afro-Brazilian “demons” – politics, selfhood and shared experience of spiritual work in southeast Brazil. Revista del CESLA, 26, 195-220. Recuperado de https://doi.org/10.36551/2081-1160.2020.26.195-220

Maldonado-Torres, N. (2007). Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto. In S. Castro-Gómez, & R. Grosfoguel (Coords.), El giro decolonial: reflexiones para uma diversidad epistêmica más allá del capitalismo global (pp. 127-167). Bogotá, Colombia: Siglo del Hombre Editores, Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos, Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar.

Maldonado-Torres, N. (2014a). AAR Centennial roundtable: religion, conquest, and race in the foundations of the modern/colonial world. Journal of the American Academy of Religion, 82(3), 636-665. Recuperado de https://doi.org/10.1093/jaarel/lfu054

Maldonado‐Torres, N. (2014b). Race, religion, and ethics in the modern/colonial world. Journal of Religious Ethics, 42(4), 691-711. Recuperado de https://doi.org/10.1111/jore.12078

Mignolo, W. (2000). Local histories/global designs: coloniality, subaltern knowledge, and border thinking. Princeton, NJ: Princeton University Press.

Mignolo, W. (2007). Delinking: the rhetoric of modernity, the logic of coloniality and the grammar of de-coloniality. Cultural Studies, 21(2-3), 449-514. Recuperado de https://doi.org/10.1080/09502380601162647

Mignolo, W. (2017). Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 32(94), 1-18. Recuperado de https://doi.org/10.17666/329402/2017

Miranda, A. P. M. (2020). “Terreiro politics” against religious racism and “christofascist” politics. Vibrant: Virtual Brazilian Anthropology, 17, e17456. Recuperado de http://doi.org/10.1590/1809-43412020v17d456

Nascimento, T. F. & Costa, B. P. (2019). O terreiro de religiões de matriz africana como espaço marginal e possível à vivência de pessoas travestis. Caderno Prudentino de Geografia, 3(41), 25-36.

Nascimento, W. F. (2016). Olojá: entre encontros – Exu, o senhor do mercado. Das Questões, 4(1), 28-39. Recuperado de https://doi.org/10.26512/dasquestoes.v4i1.16208

Nascimento, W. F. (2017). O fenômeno do racismo religioso: desafios para os povos tradicionais de matrizes africanas. Revista Eixo, 6(2), 51-56. Recuperado de https://doi.org/10.19123/eixo.v6i2.515

Nogueira, S. (2020). Intolerância religiosa. São Paulo, SP: Pólen.

Nunes, V. H. B. (2018). Ilê Oju Odé: o candomblé na perspectiva decolonial. In Anais Eletrônicos do 2º Congresso Internacional Epistemologias do Sul, Paraná, PR.

Porto-Gonçalves, C. W. (2010). De saberes e de territórios: diversidade e emancipação a partir da experiência latino-americana. GEOgraphia, 8(16), 41-55. Recuperado de https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2006.v8i16.a13521

Preite, W., Sobrinho. (2022, abril 18). Denúncias de intolerância religiosa triplicam em 5 anos no estado de SP. UOL. Recuperado de https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2022/04/18/intolerancia-regiliosa-estado-de-sao-paulo-umbanda-candomble-evangelicos.htm

Quijano, A. (2005). Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In E. Lander (Ed.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-americanas (pp. 227-228). Buenos Aires, Argentina: CLACSO.

Quijano, A. (2013). El trabajo. Argumentos, 26(72), 145-163.

Said, E. W. (2007). Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo, SP: Editora Companhia das Letras.

Sansi, R., & Parés L. N. (2012). The multiple agencies of Afro-Brazilian religions. Religion and Society: Advances in Research, 3(1), 76-94. Recuperado de https://doi.org/10.3167/arrs.2012.030105

Santos, E. F. (2009). O poder dos candomblés: perseguição e resistência no Recôncavo da Bahia. Salvador, BA: EDUFBA.

Santos, T. L. (2013). Leis e religiões: as ações do Estado sobre as religiões no Brasil do século XIX. In Anais do 4º Encontro Nacional do GT História das Religiões e das Religiosidades, Maringá, PR. Recuperado de http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/anais4/st16/7.pdf

Sanz, W. D. C. (2012). Discriminação, preconceitos e intolerância. In C. C. P. Moraes, A. S. Lisboa, & L. F. Oliveira (Orgs.), Educação para as relações étnico-raciais (2a ed., Cap. 6, pp. 245-285). Goiânia, GO: FUNAPE.

Silva, V. G. (2014). Religion and black cultural identity. Roman Catholics, Afro-Brazilians and Neopentecostalism. Vibrant: Virtual Brazilian Anthropology, 11(2), 210-246. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S1809-43412014000200008

Sousa, V. C. (2021). The religious persecution of casa do rei e senhor das alturas. Journal of Africana Religions, 9(2), 262-267. Recuperado de https://doi.org/10.5325/jafrireli.9.2.0262

Spivak, G. C. (2010). Pode o subalterno falar? Belo Horizonte, MG: Editora da UFMG.

Torres, I. L. S. (2021) Candomblé: expressões decoloniais e contribuições político-epistêmicas. In Anais do 10º Congresso Internacional de Diversidade Sexual, Étnico-racial e de Gênero, Campina Grande, PB. Recuperado de https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/74992

Tracey, P., Phillips, N., & Lounsbury, M. (2014). Taking religion seriously in the study of organizations. In P. Tracey, N. Phillips, & M. Lounsbury (Eds.), Religion and organization theory (pp. 3-21). Bingley, UK: Emerald Group Publishing Limited.

Van Maanen, J. (1979). The fact of fiction in organizational ethnography. Administrative Science Quarterly, 24(4), 539-550. Recuperado de https://doi.org/10.2307/2392360

Van Maanen, J. (1988) Tales of the field. Chicago, IL: The University of Chicago Press.

Walsh, C. (2010). Interculturalidad crítica y educación intercultural. In J. Viaña, L. Tapia, & C. Walsh (Eds.), Construyendo interculturalidad crítica (pp. 75-96). La Paz, Bolivia: Instituto Internacional de Integración.

Wolcott, H. F. (1999) Ethnography: a way of seeing. Walnut Creek, CA: AltaMira Press.

Yountae, A. (2020). A decolonial theory of religion: race, coloniality, and secularity in the Americas. Journal of the American Academy of Religion, 88(4), 947-980. Recuperado de https://doi.org/10.1093/jaarel/lfaa057

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)