Rotulação e seletividade policial: óbices à institucionalização da democracia no Brasil

Autores

  • Flávia Cristina Soares Universidade Federal de Minas Gerais
  • Ludmila Mendonça Lopes Ribeiro Universidade Federal de Minas Gerais

Palavras-chave:

Teoria da Rotulação, Democracia, Instituições, Sistema de Justiça Criminal.

Resumo

Este artigo apresenta uma revisão dos estudos produzidos no Brasil, a partir da teoria da rotulação, sobre o funcionamento do sistema de Justiça criminal, com destaque para as ações policiais. O balanço da literatura indica que os indivíduos jovens, negros e pobres são os mais suscetíveis ao rótulo de criminoso pelas polícias e pelo Poder Judiciário, institucionalizando a cidadania disjuntiva. Os resultados permitiram concluir que há um descompasso entre o ideal da democracia e a realidade construída por meio das instituições que são encarregadas da produção da Justiça no País, contribuindo para a reificação de desigualdades sociais, fato que bloqueia o desenvolvimento da democracia no país.

Referências

ADORNO, Sérgio. Discriminação racial e justiça criminal em São Paulo. Novos Estudos, São Paulo, n. 43, 1995.

AKERS, Ronald L. Problems in the sociology of deviance: Social definitions and behavior. Social Forces, v. 46, n. 4, 1968.

_____, Ronald L. Social learning and social structure: A general theory of crime and deviance. New Jersey: Transaction Publishers, 2011.

BECKER, Howard Soul. (1963). Outsiders: estudos de sociologia do desvio. 1.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

CALDEIRA, Teresa PR; HOLSTON, James. Democracy and violence in Brazil. Comparative studies in society and history. Society and History, vol. 41, n. 4, 1999.

CAMPOS COELHO, Edmundo. A criminalização da marginalidade e a marginalização da criminalidade. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, vol. 12, n. 2, 1978.

______. Sobre sociólogos, pobreza e crimes. Dados, Rio de Janeiro, vol.23, n.3, 1980.

______. A administração da justiça criminal no Rio de Janeiro: 1942-1967. Dados, Rio de Janeiro, vol. 29, n.1, 1986.

CAMPOS, Marcelo da Silveira. Drogas e justiça criminal em São Paulo: uma análise da origem social dos criminalizados por drogas desde 2004 a 2009. Contemporânea, São Carlos, vol. 5, n.1, 2015.

GRILLO, Carolina Christoph; POLICARPO, Frederico; VERÍSSIMO, Marcos. A “dura” e o “desenrolo”: efeitos práticos na nova lei de drogas no Rio de Janeiro. Revista de Sociologia Política. Curitiba, vol. 19, 2011.

HOLSTON, James. Cidadania insurgente: disjunções da democracia e da modernidade no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

KANT DE LIMA, Roberto. 1997b. Polícia e exclusão na cultura judiciária. Revista de Sociologia da USP, São Paulo, vol. 9, n. 1, 1997.

______. Carnavais, malandros e heróis: o dilema brasileiro do espaço público. In: GOMES, Laura Graziela; BARBOSA, Lívia; DRUMMOND, Augusto (orgs). O Brasil não é para principiantes. Rio de Janeiro: FGV, 2001.

LIBERMAN, Akiva M.; KIRK, David S.; KIM, Kideuk. Labeling effects of first juvenile arrests: secondary deviance and secondary sanctioning. Criminology, vol. 52, n. 3, 2014.

LIMA, Renato Sérgio de; SINHORETTO, Jacqueline; BUENO, Samira. A gestão da vida e da segurança pública no Brasil. Sociedade e Estado, Brasília, vol. 30, n. 1, 2015.

MACHADO DA SILVA, Luiz Antonio. Sociabilidade violenta: por uma interpretação da criminalidade contemporânea no Brasil urbano. Sociedade e Estado, Brasília, v. 19, n. 1, 2004.

MARSHALL, Thomas Humphrey. Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.

MISSE, Michel. Crime, sujeito e sujeição criminal: aspectos de uma contribuição analítica sobre a categoria “bandido”. Lua Nova, São Paulo, vol.79, 2010.

______. Sobre a construção social do crime no Brasil: esboços de uma interpretação. In: MISSE, Michel. (org). Acusados e Acusadores: estudos sobre ofensas, acusações e incriminações. Rio de Janeiro: Revan, 2008.

______. O papel do inquérito policial no processo de incriminação no Brasil: algumas reflexões a partir de uma pesquisa. Sociedade e Estado, Brasília, v. 26, n. 1, 2011.

PAES, Vívian Gilbert Ferreira; RIBEIRO, Ludmila Mendonça Lopes. Produção acadêmica sobre práticas de segurança pública e justiça criminal: estudos empíricos sobre instituições, interesses, decisões e relações dos operadores com o público. Confluências, Niterói, vol. 16, n. 3, 2015.

PAIXÃO, Antônio Luiz. A organização policial numa área metropolitana. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol.25, n.1, 1982.

______. Crime, controle social e consolidação da democracia: as metáforas da cidadania. In: REIS, F. & O’Donnel, G (eds.). A democracia no Brasil. São Paulo, Vértice, 1988.

______. Crime e criminosos em Belo Horizonte, 1932-1978. In: PINHEIRO, Paulo Sérgio (org). Crime, violência e poder. São Paulo, Editora Brasiliense, 1983.

_____. O problema da polícia. In: IUPERJ. Violência e participação política no Rio de Janeiro. Série Estudos, Rio de Janeiro, n. 91, 1995.

RIBEIRO, Ludmila; SILVA, Klarissa. Fluxo do sistema de justiça criminal brasileiro: um balanço da literatura. Cadernos de Segurança Pública, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 1, 2010.

SHIRLEY, Robert Weaver. Antropologia jurídica. São Paulo: Saraiva, 1987.

SINHORETTO, Jacqueline. Campo estatal de administração de conflitos: múltiplas intensidades da justiça. Anuário Antropológico, Brasília, vol. II, n. 2009, 2010.

______. Seletividade penal e acesso à justiça. In: LIMA, Renato Sérgio de; RATTON, José Luiz; AZEVEDO, Rodrigo Guiringhelli. (orgs). Crime, Segurança e Justiça no Brasil. São Paulo: Contexto, 2014.

VARGAS, Joana Domingues. Fluxo do sistema de justiça criminal. In: LIMA, Renato Sérgio de; RATTON, José Luiz; AZEVEDO, Rodrigo Guiringhelli. (orgs). Crime, Segurança e Justiça no Brasil. São Paulo: Contexto, 2014.

VELHO, Gilberto. Becker, Goffman e a antropologia no Brasil. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, vol. 4, n. 1, 2002.

Downloads

Publicado

2018-04-11