Horizontes de decolonização em marketing: uma proposta com base na crítica à colonialidade da teoria da globalização de mercados

Conteúdo do artigo principal

Míriam de Souza Ferreira
https://orcid.org/0000-0002-0772-4904
Marcus Wilcox Hemais
https://orcid.org/0000-0001-9181-8446

Resumo

As teorias mais reconhecidas em marketing foram, em sua maioria, escritas por autores do norte global, que foram reverenciados na área por seus ideais. Entre estes, um que merece destaque é Theodore Levitt, com a teoria da globalização de mercados, que é considerada relevante até os dias atuais. Todavia, ao analisar essa teoria e as interpretações feitas a seu respeito por meio de uma perspectiva decolonial da América Latina, percebe-se o quanto ela reproduz a colonialidade. Assim, este artigo buscou analisar, segundo a perspectiva decolonial, com particular atenção ao conceito de colonialidade do poder – e suas derivações, a colonialidade do saber e a colonialidade do ser –, como a colonialidade se faz presente na teoria da globalização de mercados desenvolvida por Theodore Levitt. Tal teoria reitera uma assimetria racial entre povos, posiciona-se como uma perspectiva epistemológica superior e universal e promove uma convergência para formas de Ser associadas ao mundo eurocêntrico. Contudo, sabendo que esta é apenas uma entre outras teorias que compõem o marketing e que reverberam a mesma lógica colonial, propõe-se aqui uma descolonização do marketing no Brasil. Para tanto, sugere-se a incorporação dos pensamentos de autores como Lélia Gonzalez e Ailton Krenak, que debatem criticamente questões relacionadas com a globalização, o capitalismo e mercados. A utilização de conhecimentos subalternizados exteriores à área é uma ousadia teórica necessária para construir uma disciplina do marketing menos assimétrica e mais conscientemente orientada para lidar com as complexidades e os desafios desse contexto.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Detalhes do artigo

Como Citar
Ferreira, M. de S., & Hemais, M. W. (2023). Horizontes de decolonização em marketing: uma proposta com base na crítica à colonialidade da teoria da globalização de mercados. Cadernos EBAPE.BR, 21(2), e2022–0134. https://doi.org/10.1590/1679-395120220134
Seção
Artigos

Referências

Alcadipani, R., & Bertero, C. (2012). Guerra Fria e ensino do management no Brasil: o caso da FGV EAESP. Revista de Administração de Empresas, 52(3), 284-99. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0034-75902012000300002

Bádéjo, F., & Gordon, R. (2022). See finish! Scunnered!! A vernacular critique of hierarchies of knowledge in marketing. Marketing Theory, 22(2), 229-49. Recuperado de https://doi.org/10.1177/14705931221074724

Boddewyn, J., Soehl, R., & Picard, J. (1986). Standardization in international marketing: is Ted Levitt in fact right? Business Horizons, 29(6), 69-75. Recuperado de https://doi.org/10.1016/0007-6813(86)90040-6

Boschi, M., Barros, D., & Sauerbronn, J. F. (2016). A introdução da disciplina de marketing no Brasil: “uma linguagem coque nos une”. Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 3(8), 888-956. Recuperado de https://doi.org/10.25113/farol.v3i8.3872

Cardoso, C. (2014). Amefricanizando o feminismo: o pensamento de Lélia Gonzalez. Estudos Feministas, 22(3), 965-988. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0104-026X2014000300015

Castro-Goméz, S. (2021). Zero-Point Hubris – Science, Race and Enlightenment in Eighteenth Century Latin America. Lanham, MA: Rowan & Littlefield.

Cunningham, M., & Ferrell, O. (2015). Marketing’s greatest challenge: the social impact of the globalization of markets. In J. Hawes (Ed.), Proceedings of the 1989 Academy of Marketing Science (AMS) Annual Conference. Developments in marketing science: proceedings of the academy of marketing science (pp. 231-234). Cham, UK: Springer. Recuperado de https://doi.org/10.1007/978-3-319-17055-8_47

Dixon, D., & Sybrandy, A. (2015). The globalization of markets: is convergence a myth? In A. Manrai, & H. Meadow (Eds.), Global Perspectives in Marketing for the 21st Century. Developments in marketing science: proceedings of the academy of marketing science (pp. 374-378). Cham, UK: Springer. Recuperado de https://doi.org/10.1007/978-3-319-17356-6_115

Douglas, S. P., & Wind, Y. (1987). The myth of globalization. Columbia Journal of World Business, 22(4), 19-29.

Dussel, E. (2000). Europe, modernity and eurocentrism. Nepantla: Views from the South, 1(3), 465-478.

Dussel, E. (2006). Globalization, organization and the ethics of liberation. Organization, 13(4), 489-508. Recuperado de https://doi.org/10.1177/1350508406065852

Escobar, A. (1999). The invention of development. Current History, 98(631), 382-386. Recuperado de https://doi.org/10.1525/curh.1999.98.631.382

Fanon, F. (1965). Os condenados da terra. Lisboa, Portugal: Editora Ulisseia.

Faria, A., & Cunha, J. F. (2022). Decolonizando business history: o caso da historiografia Unilever. Cadernos EBAPE.BR, 20(1), 118-34. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1679-395120210001

Francis, J. (2022). Rescuing marketing from its colonial roots: a decolonial anti-racist agenda. Journal of Consumer Marketing. Recuperado de https://doi.org/10.1108/JCM-07-2021-4752

Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido (17a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra.

Gonzalez, L. (2020a). Racismo e sexismo na cultura brasileira. In F. Rios, & M. Lima (Orgs.), Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.

Gonzalez, L. (2020b). Por um feminismo afro-latino-americano. In F. Rios, & M. Lima (Orgs.), Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.

Gonzalez, L. (2020c). A categoria político-cultural de amefricanidade. In F. Rios, & M. Lima (Orgs.), Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.

Google Acadêmico. (2022). Theodore levitt globalization of markets. Recuperado de https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=theodore+levitt+globalization+of+markets&oq=theodore+levitt

Greyser, S. A. (2004). “Globalization of Markets”: a retrospective with Theodore Levitt. In J. A. Quelch, & R. Deshpande (Eds.), The global market: developing a strategy to manage across borders (pp. 31-36). San Francisco, CA: Jossey-Bass.

Grosfoguel, R. (2007). The epistemic decolonial turn. Cultural Studies, 21(2-3), 211-223. Recuperado de https://doi.org/10.1080/09502380601162514

Gurrieri, L. (2021). Patriarchal marketing and the symbolic annihilation of women. Journal of Marketing Management, 37(3-4), 364-370. Recuperado de https://doi.org/10.1080/0267257X.2020.1826179

Jafari, A. (2022). The role of institutions in non-Western contexts in reinforcing West-centric knowledge hierarchies: towards more self-reflexivity in marketing and consumer research. Marketing Theory, 22(2), 211-227. Recuperado de https://doi.org/10.1177/14705931221075371

Kemper, J., Hall, M., & Ballantine, P. (2019). Marketing and sustainability: business as usual or changing worldviews? Sustainability, 11(3), 1-17. Recuperado de https://doi.org/10.3390/su11030780

Kravets, O., & Sandıkçı, Ö. (2013). Marketing for socialism: Soviet cosmetics in the 1930s. Business History Review, 87(3), 461-487. Recuperado de https://doi.org/10.1017/S000768051300072X

Krenak, A. (2019). Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo, SP: Companhia das Letras.

Krenak, A. (2020). A vida não é útil. São Paulo, SP: Companhia das Letras.

Krenak, A. (2021). Sobre a reciprocidade e a capacidade de juntar mundo. In A. Krenak, H. Silvestre, & B. Santos (Eds.), O sistema e o antissistema – três ensaios, três mundos no mesmo mundo. Belo Horizonte, MG: Autêntica.

Kotler, P. (1986). Global standardization – courting danger. Journal of Consumer Marketing, 3(2), 13-15. Recuperado de https://doi.org/10.1108/eb008158

Lander, E. (2005). Ciências Sociais: saberes coloniais e eurocêntricos. In E. Lander (Org.), A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais (pp. 21-33). Buenos Aires, Argentina: CLACSO.

Levitt, T. (1960). Marketing myopia. Harvard Business Review, 82(7/8), 138-149.

Levitt, T. (1983). The globalization of markets. Harvard Business Review, 61(3), 92-102.

Maldonado-Torres, N. (2008). A topologia do Ser e a geopolítica do conhecimento. Modernidade, império e colonialidade. Revista Crítica de Ciências Sociais, 80, 71-114. Recuperado de https://doi.org/10.4000/rccs.695

Mignolo, W. D. (2011). The darker side of western modernity: global futures, decolonial options. Durham, NC: Duke University.

Mignolo, W. D. (2019). Sustainable Development or Sustainable Economies? Ideas Towards Living in Harmony and Plenitude. Socioscapes: International Journal of Societies, Politics and Cultures, 1(1), 48-65. Recuperado de https://doi.org/10.48250/1004

Mignolo, W. D. (2021). The politics of decolonial Investigations. Durham, NC: Duke University.

Mignolo, W. D., & Casas, A. (2005). Silêncios da autoridade: a colonialidade do ser e do saber. Grial: Revista Galega De Cultura, 43(165), 26-31. Recuperado de https://www.jstor.org/stable/29752393

Ng, L. C. (2016). Marketing myopia – an update (how Theodore Levitt changed our world? A look at the impact on corporate management after five decades). Journal of Marketing Management, 4(2), 24-34. Recuperado de https://doi.org/10.15640/jmm.v4n2a2

Open Syllabus. (2022). The Globalization of Markets. Recuperado de https://opensyllabus.org/result/title?id=62672162790303

Quelch, J. A., & Deshpande, R. (2004). The global market: developing a strategy to manage across borders. Hoboken, NJ: John Wiley & Sons.

Quijano, A. (2000). Coloniality of power and Eurocentrism in Latin America. International Sociology, 15(2), 215-232. Recuperado de https://doi.org/10.1177/026858090001500

Quijano, A. (2007). Coloniality and modernity/rationality. Cultural Studies, 21(2-3), 168-78. Recuperado de https://doi.org/10.1080/09502380601164353

Ramaparu, S., Timmerman, J. E., & Ramaparu, N. (1999). Choosing between globalization and localization as a strategic thrust for your international marketing effort. Journal of Marketing Theory and Practice, 17(2), 97-105. Recuperado de https://doi.org/10.1080/10696679.1999.11501832

Richers, R (1994). Recordando a infância do marketing brasileiro - um depoimento. Revista de Administração de Empresas, 34(3), 26-40. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0034-75901994000300003

Rodrigues, L., & Hemais, M. (2020). Influências eurocêntricas no Sistema Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária: pesquisa histórica sob uma perspectiva decolonial. Cadernos EBAPE.BR, 18(Especial), 794-806. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1679-395120200024

Salles, C. A. (1993). Marketing global: conceito ou mito? Revista de Administração de Empresas, 33(4), 32-39. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0034-75901993000400004

Sandikci, O. (2022). The scalar politics of difference: researching consumption and marketing outside the West. Marketing Theory, 22(2), 135-153. Recuperado de https://doi.org/10.1177/14705931221074721

Sheth, J. N. (2020). Borderless media: rethinking international marketing. Journal of International Marketing, 28(1), 3-12. Recuperado de https://doi.org/10.1177/1069031X19897044

Takeuchi, H. (2004). “Globalization of Markets” revisited Japan after twenty years. In T. Quelch, & R. Deshpande (Eds.), The global market: developing a strategy to manage across borders (pp. 37-77). San Francisco, CA: Jossey-Bass.

Tedlow, R., & Abdelal, R. (2004). Theodore Levitt’s “The Globalization of Markets” – an evaluation after two decades. In T. Quelch, & R. Deshpande (Eds.), The global market: developing a strategy to manage across borders (pp. 11-30). San Francisco, CA: Jossey-Bass.

Varman, R. (2018). Postcolonialism, subalternity and critical marketing. In M. Tadajewski, M. Higgins, J. Denegri-Knott, & R. Varman (Eds.), The routledge companion to critical marketing. New York, NY: Routledge.

Varman, R., & Saha, B. (2009). Disciplining the discipline: understanding postcolonial epistemic ideology in marketing. Journal of Marketing Management, 25(7-8), 811-824. Recuperado de https://doi.org/10.1362/026725709X471640

Wilkie, W., & Moore, E. (2003). Scholarly research in marketing: exploring the “4 Eras” of thought development. Journal of Public Policy and Marketing, 22(2), 116-146. Recuperado de https://doi.org/10.1509/jppm.22.2.116.1