Cidade, encarceramento e violência: uma geografia da sobrevivência dos negros para os estudos organizacionais
Conteúdo do artigo principal
Resumo
O objetivo deste artigo é propor desdobramentos entre a formação socioespacial como manifestação de um racismo estrutural, com o encarceramento em massa e a violência contra a população negra, numa geografia de sobrevivência a qual pode trazer contribuições para a virada espacial nos estudos organizacionais. Partimos de uma consideração de espaço social, cidade e raça que indica que o direito de habitar e viver na cidade de homens e mulheres negros é fortemente afetado pelo racismo estrutural. Dessa forma, não se deve colocar a questão de “como se dá a estrutura da vida cotidiana na cidade” e, sim, indagar “como é possível para os negros viverem na cidade”. A literatura sobre raça e cidade indica a existência de áreas moles, áreas duras e espaços negros. O encarceramento em massa e a violência contra homens e mulheres negros, exposta também nos dados sobre abordagens policiais, remonta ao histórico de escravização, elemento constituinte das cidades na classificação da corporeidade, fator limitante para que a população negra possa se apropriar e participar dos rumos da cidade. Logo, essa perspectiva espacial das relações raciais na cidade denota como hoje se produz o espaço urbano.
Downloads
Métricas
Detalhes do artigo
Cadernos EBAPE.BR compromete-se a contribuir com a proteção dos direitos intelectuais do autor. Nesse sentido:
- Adota a licença Creative Commoms BY (CC-BY) em todos os textos que publica, exceto quando houver indicação de específicos detentores dos direitos autorais e patrimoniais;
- Adota software de verificação de similaridade de conteúdo - plagiarismo (Crossref Similarity Check);
- Adota ações de combate ao plagio e má conduta ética, alinhada às diretrizes do Committee on Publication Ethics (COPE).
Mais detalhes do Código de Ética adotado pelo Cadernos EBAPE.BR podem ser visualizados em Normas Éticas e Código de Conduta.
Referências
Almeida, S. L. (2020). Racismo estrutural. São Paulo, SP: Jandaíra.
Bernardino-Costa, J., Maldonado-Torres, N., & Grosfoguel, R. (2020). Introdução: decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. In J. Bernardino-Costa, N. Maldonado-Torres, & R. Grosfoguel (Orgs.), Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico (pp. 9-26). Belo Horizonte, MG: Autêntica.
Borges, J. (2020). Encarceramento em massa. São Paulo, SP: Jandaíra.
Cerqueira, D., & Coelho, D. (2017). Democracia racial e homicídios de jovens negros na cidade partida. Brasília, DF: IPEA.
Correia, A., Coelho, C., & Salles, L. (2018, outubro 11). Cidade interseccional: o direito à cidade nas perspectivas de gênero e raça. Observatório das Metrópoles. Recuperado de https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/o-direito-cidade-nas-perspectivas-de-genero-e-raca/
Costa, A. C. S., & Arguelhes, D. O. (2008). A higienização social através do planejamento urbano de Belo Horizonte nos primeiros anos do século XX. Universitas Humanas, 5(1), 109-137. Recuperado de https://doi.org/10.5102/univhum.v5i1.878
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. (2019). A inserção da população negra no mercado de trabalho. Brasília, DF: Autor. Recuperado de https://www.dieese.org.br/analiseped/negros.html
Fanon, F. (2008). Pele negra, máscaras brancas. Salvador, BA: EDUFBA.
Ferreira, D. C., & Ratts, A. (2016). Geografia da diferença: diferenciações socioespaciais e raciais. Revista GeoAmazônia, 4(7), 97-105.
Folha de S. Paulo. (2020, novembro 20). Fotografia: casos de violência contra negros no Brasil e nos EUA. Recuperado de https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1683909191170285-casos-de-violencia-contra-negros-no-brasil-e-nos-eua
Fórum Brasileiro de Segurança Pública. (2020). Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo, SP: Autor. Recuperado de https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/10/anuario-14-2020-v1-interativo.pdf
Frehse, F. (2013). O espaço na vida social: uma introdução. Estudos Avançados, 27(79), 69-74. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0103-40142013000300006
Frehse, F., & O’Donnell, J. (2019). Quando espaços e tempos revelam cidades. Tempo Social, 31(1), 1-9. Recuperado de https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2019.153111
Geledés. (2015, junho 01). Após passar 3 anos preso injustamente, ser estuprado e contrair HIV na cadeia, ex-pedreiro ainda luta por indenização. Recuperado de https://www.geledes.org.br/apos-passar-3-anos-preso-injustamente-ser-estuprado-e-contrair-hiv-na-cadeia-ex-pedreiro-ainda-luta-por-idenizacao/
Gomes, N. L. (2019). O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis, RJ: Vozes.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2020). Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil. Recuperado de https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. (2020). Atlas da violência 2020. Rio de Janeiro, RJ: Autor. Recuperado de https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/atlas-da-violencia-2020
Instituto Ethos. (2016). Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas. São Paulo, SP: Autor. Recuperado de https://issuu.com/institutoethos/docs/perfil_social_tacial_genero_500empr
Kilomba, G. (2019). Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro, RJ: Cobogó.
Lacerda, D. S. (2015). Overcoming dichotomies through space: the contribution of dialectical materialism to organization studies. Organizações & Sociedade, 22(73), 223-36. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1984-9230732
Leandro, G. (2019, junho 12). Direito à cidade e questões raciais. Coletiva, 24, 1-10. Recuperado de https://www.coletiva.org/dossie-direito-a-cidade-n24-artigo-direito-a-cidade-e-questoes-raciai
Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. (2006). Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Brasília, DF. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm
Mac-Allister, M. (2004). A cidade no campo dos estudos organizacionais. Organizações & Sociedade, 11(Especial), 171-81. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1984-9110012
Mastrodi, J., & Batista, W. M. (2018). O dever de cidades includentes em favor das mulheres negras. Revista de Direito da Cidade, 10(2), 862-886. Recuperado de https://doi.org/10.12957/rdc.2018.31664
Mbembe, A. (2018). Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo, SP: N-1 Edições.
Mccann, E. J. (1999). Race, protest, and public space: contextualizing Lefebvre in the U. S. City. Antipode, 31(2), 163-184. Recuperado de https://doi.org/10.1111/1467-8330.00098
Mitchell, D., & Heynen, N. (2009). The geography of survival and the right to the city: speculations on surveillance, legal innovation, and the criminalization of intervention. Urban Geography, 30(6), 611-632. Recuperado de https://doi.org/10.2747/0272-3638.30.6.611
Moura, C. (2019). Sociologia do negro brasileiro (2a ed.). São Paulo, SP: Perspectiva.
Morales, A. (1991). Blocos negros em Salvador: reelaboração cultural e símbolos de baianidade. Caderno CRH, 4, 72-92. Recuperado de https://doi.org/10.9771/ccrh.v4i0.18844
Munanga, L. (2020). Negritude: usos e sentidos (4a ed., 2a reimp.). Belo Horizonte, MG: Autêntica.
Naidin, S. (2020, outubro). Letalidade policial: problema ou projeto? (Boletim Segurança e Cidadania, 27). Rio de Janeiro, RJ: Centro de Estudos de Segurança e Cidadania.
Nogueira, A. M. R. (2018). A construção conceitual e espacial dos territórios negros no Brasil. Revista de Geografia, 35(Especial), 204-218. Recuperado de https://doi.org/10.51359/2238-6211.2018.234423
O Rappa. (1994). Todo camburão tem um pouco de navio negreiro. Rio de Janiero, RJ: Warner Music Brasil.
Panta, M. (2020). População negra e o direito à cidade: interfaces entre raça e espaço urbano no Brasil. Acervo, 33(1), 79-100.
Pimentel, A., & Barros, B. W. (2020). As prisões no Brasil: espaços cada vez mais destinados à população negra do país. In Fórum Brasileiro de Segurança Pública (Org.), Anuário Brasileiro de Segurança Pública (pp. 306-307). São Paulo, SP: FBSP. Recuperado de https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/10/anuario-14-2020-v1-interativo.pdf
Ramos, S., Silva, P. P., Silva, I., & Francisco, D. (2022). Negro trauma: racismo e abordagem policial no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ: CESeC.
Raul, J. M. (2015). Mulheres negras, movimentos sociais e direito à cidade: uma perspectiva para as políticas públicas. Revista Eletrônica de Estudos Urbanos e Regionais, 22(6), 46-53.
Rolnik, R. (1989). Territórios negros nas cidades brasileiras: etnicidade e cidade em São Paulo e Rio de Janeiro. 1989. Recuperado de https://raquelrolnik.files.wordpress.com/2013/04/territc3b3rios-negros.pdf
Rosa, A. R. (2014). Relações raciais e estudos organizacionais no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, 18(3), 240-260. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1982-7849rac20141085
Sansone, L. (1996). Nem somente preto ou negro: o sistema de classificação racial no Brasil que muda. Afro-Ásia, 18, 165-187. Recuperado de https://doi.org/10.9771/aa.v0i18.20904
Santos, R. E. (2012). Sobre espacialidades das relações raciais: raça, racialidade e racismo no espaço urbano. In Santos, R. E. (Org.). Questões urbanas e racismo (pp. 36-67). Brasília, DF: ABNP.
Saraiva, L. A. S. (2019). Os estudos organizacionais e as cidades. In L. A. S. Saraiva, & A. G. Enoque (Orgs.), Cidades e estudos organizacionais: um debate necessário (pp. 21-74). Ituiutaba, MG: Barlavento.
Saraiva, L. A. S., & Carrieri, A. P. (2012). Organização-cidade: proposta de avanço conceitual a partir da análise de um caso. Revista de Administração Pública, 46(2), 547-76. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0034-76122012000200010
Simas, L. A. (2020). Vadeia Clementina! In L. A. Simas, L. Rufino, & R. Haddock-Lobo (Eds.), Arruaças: uma filosofia popular brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo.
Simas, L. A. & Rufino, L. (2018). Fogo no mato: a ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro, RJ: Mórula.
Sodré, M. (2019). O terreiro e a cidade: a forma social negro-brasileira (3a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Mauad X.
Stabile, A. (2020, maio 14). Condenada sem provas, Bárbara Querino é absolvida pela segunda vez. El País. Recuperado de https://brasil.elpais.com/brasil/2020-05-14/condenada-sem-provas-barbara-querino-e-absolvida-pela-segunda-vez.html
Teixeira, J. (2021). Trabalho doméstico. São Paulo, SP: Jandaíra.