A flexibilização do trabalho como regra no capitalismo: conceituação e proposições teórico-analíticas

Conteúdo do artigo principal

Geraldo Tessarini Junior
https://orcid.org/0000-0002-4376-4487
Patrícia Saltorato
https://orcid.org/0000-0002-4089-2547
Kaio Lucas da Silva Rosa
https://orcid.org/0000-0001-7865-6585

Resumo

O objetivo deste artigo é explorar a temática da flexibilização do trabalho no contexto do capitalismo flexível, com vistas a propor um modelo teórico-analítico das diferentes classificações desse fenômeno. A partir de uma literatura de cunho crítico, apresentamos como questão fundamental a compreensão sobre quais são as múltiplas manifestações de flexibilidade e como elas afetam os trabalhadores e suas práticas produtivas. Buscando aventar o debate, o modelo proposto compreende 3 níveis analíticos interdependentes: flexibilidade contratual, flexibilidade funcional e flexibilidade espaço temporal. Cada nível apresenta 2 subcategorias que permitem classificar e analisar uma atividade de trabalho quanto a formas de vínculo, remuneração, conteúdo, autonomia, local de execução e duração. Ao longo do ensaio, apresentamos uma definição alternativa ao conceito de flexibilização do trabalho e defendemos que se trata de um fenômeno incompatível com o aprimoramento do processo de trabalho em favor dos trabalhadores, representando mais um movimento de acirramento do conflito capital versus trabalho. Configura-se, portanto, num mecanismo de exploração dos trabalhadores e de ampliação da produtividade da força de trabalho em busca de maior acumulação privada de capital.

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Como Citar
Tessarini Junior, G., Saltorato, P., & Rosa, K. L. da S. (2023). A flexibilização do trabalho como regra no capitalismo: conceituação e proposições teórico-analíticas. Cadernos EBAPE.BR, 21(1), e2022–0049. https://doi.org/10.1590/1679-395120220049
Seção
Artigos

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