Leon Victor de Queiroz Barbosa

 

Toda greve irá prejudicar os alunos da graduação. Toda. Por isso, sempre optei por só aderir a greves quando os prejuízos às universidades (e aos alunos de forma indireta) superassem os prejuízos diretos. Por isso, essa é a primeira vez em que me posiciono a favor de uma greve no ensino superior federal. Mas essa conta não é tão objetiva quanto deveria ser, por isso alguns aderem, outros não. É assim na tomada de decisão, as assimetrias informacionais fazem com que agentes aparentemente idênticos tomem decisões distintas.

Também, nunca há momento propício, nunca.  Há o momento em que boa parte não aguenta mais. O governo Bolsonaro chamou de gasto o que se convém chamar de investimento em educação. Com os aplausos dos grandes jornais, cortes foram feitos ao ponto de os orçamentos das IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) serem praticamente os de gastos obrigatórios. Com infraestrutura já deteriorada por falta de investimentos, a pandemia terminou por destruir o pouco que ainda se tinha nas federais. Com a continuação da política de déficit zero com drásticos cortes nos investimentos, o governo anterior deixou à míngua a infraestrutura física, fazendo com que os campi ficassem cada vez mais desertos.

Os professores federais depositaram majoritariamente em Lula suas esperanças de ver um novo programa de valorização da carreira, como o Presidente fez posteriormente com as bolsas de pesquisa que, com o valor em que estavam, não atraíam mais ninguém. Iniciou-se o governo Lula III e nenhuma proposta de reestruturação da carreira docente nem outro modelo mais adequado para o ensino superior foi proposto ou debatido (Quando se compara o gasto percentual do PIB brasileiro em educação com países da OCDE, ninguém leva em conta que o ensino público deles tem investimento privado).

O que se viu do Governo Lula foi o tratamento especial a carreiras como PRF, Polícia Federal e Banco Central, deixando um professor federal com graduação e regime de trabalho de 40h semanais ganhando R$ 3.412. O salário só fica “atrativo” quando se exige doutorado (de 6 a nos anos a mais de estudo depois da graduação) e dedicação exclusiva (forma de contratação inexistente para todo o serviço público brasileiro, exceto para professores universitários) onde o salário é de pouco mais de R$ 10.000, mas que ainda perde para Analista Judiciário que com graduação e na prática 30h semanais, recebe R$ 13.000.

Além de um salário risível, as universidades contam com estruturas completamente inadequadas para os afazeres acadêmicos, recebendo muitas vezes reagentes químicos já vencidos entre outros problemas estruturais graves. São problemas antigos que persistem.

O PSOL não tem essa força toda que O Globo acha que tem, de conseguir através do ANDES, contagiar toda a carreira para o que se acha ser uma greve de cunho político, mais uma vez buscando deslegitimar professores sérios que já não aguentam mais trabalhar nessas condições. A má fé editorial é tamanha que busca mais uma vez ludibriar o leitor e os estudantes, como se nas federais estivesse tudo bem. Também, não informa ao leitor que a UFRJ é a alma mater de grande parte do alto escalão do Ministério da Gestão e Inovação (MGI), e que provavelmente por isso não aderiu à greve.

Toda greve é política, a UFRJ merece ser respeitada por sua decisão bem como as demais instituições federais que aderiram à greve. É preciso também ter respeito aos professores que sofrem com a paralisação das aulas, porque na balança estão dois sofrimentos: o próprio e o alheio e que por muito tempo se preferiu sofrer a defasagem salarial a adiar os sonhos da juventude em ter o tão sonhado grau do ensino superior.

*Este texto não reflete necessariamente as opiniões do Gestão, Política & Sociedade.

Sobre o autor:

Leon Victor de Queiroz Barbosa é Advogado, Cientista Político, Professor da Universidade Federal de Pernambuco.