A roda da escravidão moderna: uma nova abordagem teórica
Conteúdo do artigo principal
Resumo
Algumas pesquisas sobre a escravidão moderna mostraram como esse fenômeno prospera e persiste, apesar das pressões institucionais contra práticas desumanas na vida social. Para analisar esse fenômeno do ponto de vista institucional e responder à pergunta sobre quais são os principais fatores no campo institucional que sustentam a escravidão moderna, foram coletados dados qualitativos no contexto brasileiro, já que o país é amplamente reconhecido por suas ações significativas contra práticas de escravidão. Este estudo é baseado em dados primários e secundários, coletados por meio de entrevistas em profundidade e observação participante em conferências sobre o tema, bem como documentos cujos conteúdos foram analisados usando o software NVivo. O estudo sugere que certas condições contextuais legitimam as práticas organizacionais de empresas formais e informais, o que é chamado de deflexão institucional. Como contribuição aos padrões de gestão da escravidão moderna, este artigo apresenta a “Roda da Escravidão Moderna” a partir dos resultados, definida como um ciclo dinâmico que incorpora e sistematiza os elementos que sustentam o fenômeno. Os mecanismos da roda, quais sejam as condições favoráveis, a recorrência, o aliciamento e o “sistema de barracão” (truck system) contribuem para as práticas de escravidão moderna e sua manutenção ao longo do tempo. Além disso, sugerimos que esses mesmos mecanismos também podem ser a solução para romper o círculo vicioso da Roda da Escravidão Moderna.
Downloads
Métricas
Detalhes do artigo
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Cadernos EBAPE.BR compromete-se a contribuir com a proteção dos direitos intelectuais do autor. Nesse sentido:
- Adota a licença Creative Commoms BY (CC-BY) em todos os textos que publica, exceto quando houver indicação de específicos detentores dos direitos autorais e patrimoniais;
- Adota software de verificação de similaridade de conteúdo - plagiarismo (Crossref Similarity Check);
- Adota ações de combate ao plagio e má conduta ética, alinhada às diretrizes do Committee on Publication Ethics (COPE).
Mais detalhes do Código de Ética adotado pelo Cadernos EBAPE.BR podem ser visualizados em Normas Éticas e Código de Conduta.
Referências
Araújo, C. C. S., & Carneiro, E., Jr. (2020). A bibliometric analysis of the intellectual structure of studies on slavery in the 21st century. International Journal of Professional Business Review, 5(1), 105-127. Recuperado de https://doi.org/10.26668/businessreview/2020.v5i1.175
Bales, K. (2004). Disposable people: new slavery in global economy. London, UK: University of California Press.
Bales, K., & Robbins, P. T. (2001). No one shall be held in slavery or servitude: A critical analysis of international slavery agreements and concepts of slavery. Human Rights Review, 2(2), 18-45. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s12142-001-1022-6
Bales, K., Trodd, Z., & Williamson, A. K. (2009). Modern slavery: the secret world of 27 million people. Oxford, UK: Oneworld.
Bandeira, M. L. (2005). Desordem ou vácuo institucional? Uma análise dos discursos presentes na educação superior peruana (Tese de Doutorado). Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ.
Banerjee, A. V., & Duflo, E. (2007). The Economic Lives of the Poor. Journal of Economic Perspectives, 21(1), 141-168. Recuperado de https://doi.org/10.1257/jep.21.1.141
Baptista, R. M., Bandeira, M. L., & Souza, M. T. S. (2018). The invisibility of the black population in modern slavery: evidence based on conditions of social vulnerability. Organizações & Sociedade, 25(87), 676-703. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1984-9250877
Bazeley, P., & Jackson, K. (2013). Qualitative data analysis: with NVIVO (2a ed.). Thousand Oaks, CA: SAGE Publications Ltd.
Benstead, A. V., Hendry, L. C., & Stevenson, M. (2018). Horizontal collaboration in response to modern slavery legislation. International Journal of Operations & Production Management, 38(12), 2286-2312. Recuperado de https://doi.org/10.1108/IJOPM-10-2017-0611
Boyd, D. S., Jackson, B., Wardlaw, J., Foody, G. M., Marsh, S., & Bales, K. (2018). Slavery from Space: Demonstrating the role for satellite remote sensing to inform evidence-based action related to UN SDG number 8. ISPRS Journal of Photogrammetry and Remote Sensing, 142, 380-388. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.isprsjprs.2018.02.012
Burmester, B., Michailova, S., & Stringer, C. (2019). Modern slavery and international business scholarship: the governance nexus. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 139-157. Recuperado de https://doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0011
Caruana, R., Crane, A., Gold, S., & LeBaron, G. (2021). Modern Slavery in Business: The Sad and Sorry State of a Non-Field. Business and Society, 60(2), 251-287. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0007650320930417
Christ, K. L., & Burritt, R. L. (2021). Accounting for modern slavery risk in the time of COVID-19: challenges and opportunities. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 34(6), 1484-1501. Recuperado de https://doi.org/10.1108/AAAJ-08-2020-4726
Cooke, B. (2002). Management’s denial of slavery. Manchester, UK: University of Manchester.
Crane, A. (2013). Modern slavery as a management practice: Exploring the conditions and capabilities for human exploitation. Academy of Management Review, 38(1), 49-69. Recuperado de https://doi.org/10.5465/amr.2011.0145
Dacin, M. T., Goodstein, J., & Scott, W. R. (2002). Institutional Theory and Institutional Change: Introduction to the Special Research Forum. The Academy of Management Journal, 45(1), 45-56. Recuperado de https://doi.org/10.2307/3069284
Dahan, N. M., & Gittens, M. (2010). Business and the public affairs of slavery: A discursive approach of an ethical public issue. Journal of Business Ethics, 92(2), 227-249. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s10551-009-0151-8
Datta, M. N., & Bales, K. (2013). Slavery is Bad for Business: Analyzing the Impact of Slavery on National Economies. The Brown Journal of World Affairs, 19(2), 205-223.
Diab, A. (2022). Modern slavery, accountability and technology: evidence from a West Asian context. Journal of Accounting in Emerging Economies, 12(5), 908-933. Recuperado de https://doi.org/10.1108/JAEE-05-2021-0149
DiMaggio, P. J., & Powell, W. W. (1983). The iron cage revisited institutional isomorphism and collective rationality in organizational fields. American Sociological Review, 48(2), 147-160. Recuperado de https://doi.org/10.2307/2095101
DiMaggio, P., & Powell, W. (1999). El nuevo institucionalismo en el análisis organizacional. (4a ed.). Ciudad de México, MX: Fondo de Cultura Económica.
Figueira, R. R. (2004). Pisando fora da própria sombra: a escravidão por dívida no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro, RJ: Editora Record.
Flynn, A. (2020). Determinants of corporate compliance with modern slavery reporting. Supply Chain Management: An International Journal, 25(1), 1-16. Recuperado de https://doi.org/10.1108/SCM-10-2018-0369
Fonseca, V. D. (2003). A abordagem institucional nos estudos organizacionais: bases conceituais e desenvolvimentos contemporâneos. Organizações, instituições e poder no Brasil (58a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Ed. FGV.
Geng, R., Lam, H. K. S., & Stevenson, M. (2022). Addressing modern slavery in supply chains: an awareness-motivation-capability perspective. International Journal of Operations & Production Management, 42(3), 331-356. Recuperado de https://doi.org/10.1108/IJOPM-07-2021-0425
Gleason, K. A., & Cockayne, J. (2018, setembro). Official Development Assistance and SDG Target 8.7. New York, NY: United Nations University.
Gold, S., Trautrims, A., & Trodd, Z. (2015). Modern slavery challenges to supply chain management. Supply Chain Management, 20(5), 485-494. Recuperado de https://doi.org/10.1108/SCM-02-2015-0046
InPACTO. (2017a). Quem somos. Recuperado de http://inpacto.org.br/sobre-nos/
InPACTO. (2017b, agosto 11). Prevenção e combate ao trabalho escravo - InPacto e seus signatários. Recuperado de https://inpacto.org.br/
InPACTO. (2020, novembro 18). InPACTO lança índice para empresas criarem políticas de Direitos Humanos. Recuperado de https://inpacto.org.br/inpacto-lanca-indice-para-empresas-criarem-politicas-de-direitos-humanos/
InPACTO. (2021, janeiro 26). InPACTO lança Campanha Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. Recuperado de https://inpacto.org.br/inpacto-lanca-campanha-nacional-de-combate-ao-trabalho-escravo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2010). Censo demográfico IBGE: características da população e dos domicílios. Rio de Janeiro, RJ: Autor.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2016). População e Indicadores Sociais IBGE. Rio de Janeiro, RJ: Autor.
International Labour Office. (2005). Aliança global contra trabalho forçado. Relatório Global do Seguimento da Declaração da OIT sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho. Recuperado de http://bit.ly/2OrizNG
International Labour Office. (2007). Trabalho Escravo no Brasil do Século XXI. Recuperado de http://bit.ly/2RVFJxK
International Labour Office. (2009). O Custo da Coerção. International labour organization. Recuperado de http://bit.ly/2UvOWOS
International Labour Office. (2010). Combatendo o trabalho escravo contemporâneo no Brasil: o exemplo do Brasil. Recuperado de http://bit.ly/2GSeDkR
International Labour Office. (2011). Perfil dos principais atores envolvidos no trabalho escravo rural no Brasil. Recuperado de http://bit.ly/2GVPjKU
International Labour Office. (2014). Profits and poverty: the economics of forced labour. Recuperado de http://bit.ly/38a5kZm
Le Breton, B. (2000). Todas sabiam - A morte anunciada de Padre Josimo. São Paulo, SP: Loyola.
Le Breton, B. (2003). Trapped: modern-day slavery in the Brazilian Amazon. Boulder, CO: Lynne Rienner Publishers.
Lei nº 10.803, de 11 de dezembro de 2003. (2003). Altera o art. 149 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para estabelecer penas ao crime nele tipificado e indicar as hipóteses em que se configura condição análoga à de escravo. Brasília, DF. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.803.htm
Marinho, M. O., & Vieira, F. O. (2019). A jornada exaustiva e a escravidão contemporânea. Cadernos EBAPE.BR, 17(2), 351-361. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1679-395171623
Mascarenhas, A. O., Dias, S. L. G., & Baptista, R. M. (2015). Elementos Para Discussão Da Escravidão Contemporânea Como Prática De Gestão. Revista de Administração de Empresas, 55(2), 175-187. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0034-759020150207
Meehan, J., & Pinnington, B. D. (2021). Modern slavery in supply chains: insights through strategic ambiguity. International Journal of Operations & Production Management, 41(2), 77-101. Recuperado de https://doi.org/10.1108/IJOPM-05-2020-0292
Meyer, J. W., & Rowan, B. (1977). Institutionalized Organizations: Formal Structure as Myth and Ceremony. American Journal of Sociology, 83(2), 340-363. Recuperado de https://doi.org/10.1086/226550
Moser, C. O. N. (1998). The asset vulnerability framework: Reassessing urban poverty reduction strategies. World Development, 26(1), 1-19. Recuperado de https://doi.org/10.1016/S0305-750X(97)10015-8
Ministério do Trabalho e Emprego. (2011). Manual de Combate ao Trabalho em Condições Análogas às de Escravo. Brasília, DF: Autor.
Ministério do Trabalho e Emprego. (2012). Trabalho Escravo no Brasil em Retrospectiva: referências para estudos e pesquisas. Recuperado de http://acesso.mte.gov.br/data/files/8A7C816A350AC882013543FDF74540AB/retrospec_trab_escravo.pdf
Ministério do Trabalho e Emprego. (2016, maio 15). Depoimentos de Trabalhadores Resgatados do Trabalho Escravo. Brasília, DF: Autor.
Ministério do Trabalho e Emprego. (2020). Combate ao Trabalho em Condições Análogas às de Escravo. Recuperado de https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/areas-de-atuacao/combate-ao-trabalho-escravo-e-analogo-ao-de-escravo
Ministério do Trabalho e Emprego. (2021, setembro 21). Fiscalização resgata 11 trabalhadores em situação análoga à escravidão no norte do Mato Grosso. Recuperado de https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/noticias-e-conteudo/trabalho/2021/setembro/fiscalizacao-resgata-11-trabalhadores-em-situacao-analoga-a-escravidao-no-norte-do-mato-grosso
New, S. J. (2015). Modern slavery and the supply chain: the limits of corporate social responsibility? Supply Chain Management, 20(6), 697-707. Recuperado de https://doi.org/10.1108/SCM-06-2015-0201
O’Connell, H. A. (2012). The impact of slavery on racial inequality in poverty in the contemporary U.S. South. Social Forces, 90(3), 713-734. Recuperado de https://doi.org/10.1093/sf/sor021
Panori, A., Mora, L., & Reid, A. (2019, novembro). Five decades of research on urban poverty: Main research communities, core knowledge producers, and emerging thematic areas. Journal of Cleaner Production, 237, 117850. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2019.117850
Phillips, N. (2013). Unfree labour and adverse incorporation in the global economy: comparative perspectives on Brazil and India. Economy and Society, 42(2), 171-196. Recuperado de https://doi.org/10.1080/03085147.2012.718630
Phillips, N., & Sakamoto, L. (2011, fevereiro). The dynamics of adverse incorporation in global production networks: Poverty, vulnerability and ‘slave labour’ in Brazil (CPRC Working Paper, n. 175). London, UK: Chronic Poverty Research Centre. Recuperado de https://assets.publishing.service.gov.uk/media/57a08acfed915d622c00090d/WP175_Philips-Sakamoto.pdf
Powell, W. W. (1991). Expanding the scope of institutional analysis. In P. DiMaggio, & W. W. Powell (Ed.), The new institutionalism in organizational analysis. Chicago, IL: University of Chicago Press.
Prahalad, C. K., & Hammond, A. L. (2002, outubro). What works: Serving the poor, profitably: A private sector strategy for global digital opportunity. Washington, DC: World Resources Institute. Recuperado de https://www.wri.org/research/what-works-serving-poor-profitably
Purkayastha, D., & Qumer, S. M. (2019). DARK SIDE CASE: Nestlé and Modern Slavery. Academy of Management Proceedings, 2019(1), 12656. Recuperado de https://doi.org/10.5465/AMBPP.2019.12656abstract
Reckwitz, A. (2002). Toward a Theory of Social Practices: A Development in Culturalist Theorizing. European Journal of Social Theory, 5(2), 243-263. Recuperado de https://doi.org/10.1177/13684310222225432
Robb, B., & Michailova, S. (2022). Multinational enterprises’ narratives about and approaches to modern slavery: an exploratory study. Review of International Business and Strategy. Recuperado de https://doi.org/10.1108/RIBS-10-2021-0128
Scott, W. R. (1995). Institutions and Organizations: ideas, interests, and identities. Los Angeles, CA: Sage.
Stevenson, M., & Cole, R. (2018). Modern slavery in supply chains: a secondary data analysis of detection, remediation and disclosure. Supply Chain Management, 23(2), 81-99. Recuperado de https://doi.org/10.1108/SCM-11-2017-0382
Supremo Tribunal Federal. (2020, setembro 16). Lista suja do trabalho escravo é constitucional. Recuperado de https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=451765&ori=1
UK Government. (2017). Transparency in Supply Chains etc.: a practical guide. Recuperado de https://bit.ly/36D0GaG
UK Legislation. (2015). Modern Slavery Act 2015. Recuperado de http://bit.ly/3bkuqae
Voss, H., Davis, M., Sumner, M., Waite, L., Ras, I. A., Singhal, D., … Jog, D. (2019). International supply chains: compliance and engagement with the Modern Slavery Act. Journal of the British Academy, 7(s1), 61-76. Recuperado de https://doi.org/10.5871/jba/007s1.061
Walk Free Foundation. (2018). Global Slavery Index 2018. Recuperado de https://www.globalslaveryindex.org/resources/downloads/
Walk Free Foundation. (2019). Measurement, Action, Freedom 2019. Recuperado de https://www.globalslaveryindex.org/resources/downloads/
Wilhelm, M., Kadfak, A., Bhakoo, V., & Skattang, K. (2020, maio). Private governance of human and labor rights in seafood supply chains – The case of the modern slavery crisis in Thailand. Marine Policy, 115, 103833. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.marpol.2020.103833
World Bank. (2000). World Development Report 2000/2001: Attacking Poverty. Oxford, UK: Oxford University Press. Recuperado de https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/11856