Frames de uma violência: uma leitura sobre as pressões para a inclusão da pauta da violência contra as mulheres nas políticas públicas brasileiras
Conteúdo do artigo principal
Resumo
O objetivo deste artigo é identificar e analisar as frames mobilizadas pelos movimentos feministas para tratar da violência contra as mulheres, bem como discutir suas influências nas políticas públicas. O referencial teórico e metodológico é o das frames (Snow & Benford, 1992). O corpus de pesquisa constitui-se de matérias publicadas nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo, em períodos de tempo relacionados a três ações estatais de combate à violência contra a mulher: i) criação das delegacias da mulher, em 1985; ii) estabelecimento dos juizados especiais criminais, em 1995; e iii) aprovação da Lei 11.340 de 2006 (Lei Maria da Penha). Os resultados indicam que, ao longo dos períodos analisados, uma master frame, “violência contra a mulher”, ressoou na opinião pública e fez esta questão ser reconhecida como um problema pelo Estado, que estabeleceu medidas para seu enfrentamento.
Downloads
Métricas
Detalhes do artigo
Cadernos EBAPE.BR compromete-se a contribuir com a proteção dos direitos intelectuais do autor. Nesse sentido:
- Adota a licença Creative Commoms BY (CC-BY) em todos os textos que publica, exceto quando houver indicação de específicos detentores dos direitos autorais e patrimoniais;
- Adota software de verificação de similaridade de conteúdo - plagiarismo (Crossref Similarity Check);
- Adota ações de combate ao plagio e má conduta ética, alinhada às diretrizes do Committee on Publication Ethics (COPE).
Mais detalhes do Código de Ética adotado pelo Cadernos EBAPE.BR podem ser visualizados em Normas Éticas e Código de Conduta.
Referências
Almeida, S. S. (2007). Essa violência mal-dita. In S. S. de Almeida (Org.), Violência de gênero e políticas públicas. Rio de Janeiro, RJ: Editora da UFRJ.
Alonso, A. (2009). As teorias dos movimentos sociais: um balanço do debate. Lua Nova: revista de cultura e política, 76, 49-86. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0102-64452009000100003
Alves, M. M. (1997, março 07). A metade do céu. O Globo, Primeiro Caderno, p. 4.
Bacchi, C. L. (1999). Women, policy and politics: the construction of policy problems. London, UK: Sage.
Benford, R. D. (2013). Master frame. In D. A. Snow, D. Porta, B. Klandermans, & D. McAdam (Ed.), The Wiley‐Blackwell Encyclopedia of Social and Political Movements (pp. 470-475). Oxford, UK: Wiley‐Blackwell.
Capella, A. C. N., & Brasil, F. G. (2015). Análise de políticas públicas: uma revisão da literatura sobre o papel dos subsistemas, comunidades e redes. Novos Estudos-CEBRAP, 101, 57-76. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0101-33002015000100003
Decreto nº 20.892, de 4 de abril de 1983. (1983). Cria o Conselho Estadual da Condição Feminina. São Paulo. Recuperado de https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1983/decreto-20892-04.04.1983.html
Dowbor, M. (2012). A arte da institucionalização: estratégias de mobilização dos sanitaristas (1974-2006) (Tese de Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.
Earl, J., Martin, A., McCarthy, J. D., & Soule, S. A. (2004). The use of newspaper data in the study of collective action. Annual Review of Sociology, 30(1), 65-80. Recuperado de https://doi.org/10.1146/annurev.soc.30.012703.110603
Farah, M. F. S. (2004). Gênero e políticas públicas. Estudos feministas, 12(1), 47-71. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0104-026X2004000100004
Ferree, M. M. (2003). Resonance and radicalism: feminist framing in the abortion debates of the United States and Germany. American Journal of Sociology, 109(2), 304-344. Recuperado de https://doi.org/10.1086/378343
Fiabane, D. F., Alves, M. A., Breláz, G. (2014). Social accountability as an innovative frame in civic action: the case of Rede Nossa São Paulo. VOLUNTAS: International Journal of Voluntary and Nonprofit Organizations, 25(3), 818-838. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11266-013-9365-6
Fleury-Teixeira, & Chrystus. (2019). No Curso dos rios e das leis: a luta por políticas públicas de enfrentamento da violência contra a mulher. Cadernos da Escola do Legislativo, 21(35), 9-54. Recuperado de https://cadernosdolegislativo.almg.gov.br/seer/index.php/cadernos-ele/article/view/366/313
Folha de São Paulo. (1986, setembro 18). Delegacias da Mulher já receberam 14 mil queixas. Recuperado de https://acervo.folha.com.br/leitor.do?numero=9629&anchor=4299821&origem=busca&pd=df4978f27ee7f224ce972375dbbe859d
Folha de São Paulo. (1996, maio 12). Poder da Justiça Militar ameaça plano. Recuperado de https://acervo.folha.com.br/leitor.do?numero=13152&anchor=555020&origem=busca&pd=d41dd6d7b4fe402587a5793b916c38a3
Fontenelle, C. (2006, outubro 21). A Lei Maria da Penha. O Globo, Primeiro Caderno, p. 7.
Gohn, M. G. M. (1997). Teorias dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo, SP: Edições Loyola.
Goldberg, M. A. A. (1985). Mulheres espancadas: a violência denunciada. São Paulo, SP: Editora Cortez.
Helena, L. (2005, maio 22). Congresso reforça luta contra violência doméstica. O Globo, Primeiro Caderno, p. 17.
Hunt, S. A., Benford, R. D., & Snow, D. A. (1994). Identity fields: framing processes and the social construction of movement identities. In E. Laraña, H. Johnston, J. R. Gusfield (Eds.), New social movements: From ideology to identity (Chap. 8, pp. 185-208). Philadelphia, PA: Temple University Press.
Lei nº 7.353, de 29 de agosto de 1985. (1985). Cria o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - CNDM e dá outras providências. Brasília, DF. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1980-1988/L7353.htm
Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. (2006), Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Brasília, DF. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm
Nunes, J. H (2013). Interacionismo simbólico e movimentos sociais: enquadrando a intervenção. Sociedade e Estado, 28(2), 257-277. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0102-69922013000200005
O Globo. (1985, setembro 11). Sarney empossa Conselho da Mulher e admite desigualdade.
O Globo. (1993, janeiro 20). TV Globo faz campanha em defesa da mulher.
O Globo. (2005, novembro 25). OMS: 29% das paulistanas agredidas.
Oliveira, C. B., & Góes, C. H. B. (2019). Do impensável ao instituído: a ação coletiva dos catadores de materiais recicláveis na cidade de Santa Cruz do Sul. Barbarói, 54, 112-132. Recuperado de https://doi.org/10.17058/barbaroi.v0i0.14596
ONU Mulheres. (1993). Declaração sobre a eliminação da violência contra as mulheres. Recuperado de http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2013/03/declaracao_viena.pdf
Pasinato, W., & Santos, C. M. (2008). Mapeamento das Delegacias da Mulher no Brasil. Campinas, SP: Unicamp. Recuperado de https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/mapeamento-das-delegacias-da-mulher-no-brasil
Pinto, C. R. J. (2003). Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo, SP: Editora Fundação Perseu Abramo.
Prudencio, K. (2015). Micromobilizações, alinhamento de quadros e comunicação política. Compolítica, 4(2), 87-110. Recuperado de https://doi.org/https://doi.org/10.21878/compolitica.2014.4.2.69
Rosa, A. R., & Mendonça, P. M. (2011). Movimentos sociais e análise organizacional: explorando possibilidades a partir da teoria de frames e a de oportunidades políticas. Organizações & Sociedade, 18(59), 643-660. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S1984-92302011000400005
Santos, B. R. M., & Rezende, V. A. (2020). Sistema carcerário feminino: uma análise das políticas públicas de segurança com base em um estudo local. Cadernos EBAPE.BR, 18(3), 583-594. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1679-395120190034
Santos, C. M. (2010, junho). Da delegacia da mulher à Lei Maria da Penha: absorção/tradução de demandas feministas pelo Estado. Revista Crítica de Ciências Sociais, 89, 153-170. Recuperado de https://doi.org/10.4000/rccs.3759
Santos, M. C. L., Gonçalves-Dias, S. L. F., Mendonça, P. M., & Teodósio, A. D. S. S. (2010). Frames de ação coletiva: uma análise da organização do movimento nacional de catadores de recicláveis no Brasil (MNCR). In Anais do 59º Movimentos Sociais e Participação, Florianópolis, SC.
Snow, D. A. (2012). Framing and social movements: its conceptual roots and architecture. In D. A. Snow, D. della Porta, B. Klandermans, D. McAdam (Ed.), The Wiley-Blackwell Encyclopedia of social and political movements (pp. 393-410). New Jersey, NJ: Wiley-Blackwell.
Snow, D. A., & Benford, R. D. (1988). Ideology, frame resonance, and participant mobilization. In B. Klandermans, H. Kriesi, & S. Tarrow (Org.), International social movement research, 1(1), 197-217. Greenwich, CO: Jai Press.
Snow, D. A., & Benford, R. D. (1992). Master frames and cycles of protest. In A. Morris & C. M. Mueller (Ed.), Frontiers in social movement theory (pp. 133-155). New Haven, US: Yale University Press.
Snow, D. A., Rochford, E. B., Jr., Worden, S. K., & Benford, R. D. (1986, agosto). Frame alignment processes, micromobilization, and movement participation. American sociological review, 51, 464-481. Recuperado de https://doi.org/10.2307/2095581
Spink, P. (2016). The public action languages approach to public affairs. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, 21(70), 160-175. Recuperado de https://doi.org/10.12660/cgpc.v21n70.64366
Tarrow, S. G. (1983). Struggling to reform: social movements and policy change during cycles of protest. Ithaca, NY: Center for International Studies, Cornell University.
The UN Refugee Agency. (2017). Sexual and gender based violence. Recuperado de http://www.unhcr.org/sexual-and-gender-based-violence.html
Varloo, M., & Lombardo, E. (2007). Contested gender equality and policy variety in europe: introducing a critical frame analysis approach. In M. Verloo. Multiple meanings of gender equality: a critical frame analysis of gender policies in Europe (pp. 21-50). Budapeste, Hungria: Central European University Press.