Composição do gasto público e descentralização fiscal em governos locais brasileiros: uma análise por regressão quantílica incondicional com dados longitudinais
Conteúdo do artigo principal
Resumo
Este artigo teve por objetivo investigar o efeito do aumento da descentralização fiscal na composição do gasto público dos governos locais brasileiros. A pesquisa inovou ao demonstrar que a heterogeneidade da escala do gasto influencia na correlação entre a descentralização fiscal e a composição do gasto público dos governos locais. A amostra foi composta por um painel de dados desbalanceado com 5.565 municípios durante 17 anos, correspondente ao período de 2000 a 2016. A análise foi realizada por meio da regressão quantílica incondicional. Os principais resultados foram: (i) a descentralização fiscal afeta nos gastos públicos dos governos locais brasileiros, contudo o tipo de efeito depende da escala do gasto local e da estratégia de descentralização fiscal. Por exemplo, nos gastos com pessoal, para a mediana, o coeficiente foi negativo e o efeito foi positivo para o terceiro quartil dos governos locais, quando a descentralização fiscal foi mensurada pela receita tributária sobre a receita total. Por outro lado, os efeitos foram também positivos para mediana e terceiro quartil considerando as transferências intergovernamentais per capita como proxy da descentralização fiscal; (ii) as mensurações (proxies) da descentralização fiscal são correlacionadas com a composição do gasto público; (iii) a descentralização fiscal afeta mais o gasto com investimentos que os gastos de pessoal e correntes em termos medianos; e (iv) em termos medianos, a participação da receita tributária promove o aumento do gasto em funções de administração e planejamento ao invés de gastos em funções sociais; por outro lado, a descentralização fiscal medida pelas transferências intergovernamentais per capita afeta positivamente mais funções sociais que funções legislativa e administrativa.
Downloads
Detalhes do artigo
A Revista de Administração Pública (RAP) compromete-se a contribuir com a proteção dos direitos intelectuais do autor. Nesse sentido:
- Adota a licença Creative Commoms BY (CC-BY) em todos os textos que publica, exceto quando houver indicação de específicos detentores dos direitos autorais e patrimoniais;
- Adota software de verificação de similaridade de conteúdo - plagiarismo (Crossref Similarity Check);
- Adota ações de combate ao plagio e má conduta ética, alinhada às diretrizes do Committee on Publication Ethics (COPE).
Mais detalhes do Código de Ética adotado pela RAP podem ser visualizados em Normas Éticas e Código de Conduta.
Referências
Agénor, P. R. (2011). Schooling and public capital in a model of endogenous growth. Economica, 78(309), 108-132.
Alegre, J. G. (2010). Decentralization and the composition of public expenditure in Spain. Regional Studies, 44(8), 1067-1083.
Araújo, C. E. L., Gonçalves, G. Q., & Machado, J. A. (2017). Os municípios brasileiros e os gastos próprios com saúde: algumas associações. Ciência & Saúde Coletiva, 22(3), 953-963.
Arends, H. (2017). More with less? Fiscal decentralisation, public health spending and health sector performance. Swiss Political Science Review, 23(2), 144-174.
Baskaran, T., Feld, L. P., & Schnellenbach, J. (2014, setembro). Fiscal federalism, decentralization and economic growth: Survey and meta-analysis (CESifo working paper No. 4985). Munich, Germany: CESifo.
Bénassy-Quéré, A., Gobalraja, N., & Trannoy, A. (2007). Tax and public input competition. Economic Policy, 22(50), 386-430.
Bird, R. M. (2018). Fiscal decentralisation and decentralising tax administration: different questions, different answers. In A. Valdesalici, & F. Palermo (Eds.), Comparing fiscal federalism (Studies in territorial and cultural diversity governance, Vol. 10, pp. 190-220). Leiden, The Netherlands: Brill Nijhoff.
Brennan, G., & Buchanan, J. M. (1980). The power to tax: Analytic foundations of a fiscal constitution. Cambridge, UK: Cambridge University Press.
Busemeyer, M. R. (2008). The impact of fiscal decentralisation on education and other types of spending. Swiss Political Science Review, 14(3), 451-481.
Cantarero, D., & Pascual, M. (2008). Analysing the impact of fiscal decentralization on health outcomes: empirical evidence from Spain. Applied Economics Letters, 15(2), 109-111.
Del Granado, F. J. A., Martinez-Vazquez, J., & McNab, R. M. (2018). Decentralized governance, expenditure composition, and preferences for public goods. Public Finance Review, 46(3), 359-388.
Dias, B. P., Nossa, V., & Monte-Mor, D. S. (2018). O investimento público influencia na reeleição? Um estudo empírico nos municípios do estado do Espírito Santo. Revista de Administração Pública, 52(5), 880-898.
Faguet, J. P. (2004). Does decentralization increase government responsiveness to local needs? Evidence from Bolivia. Journal of public economics, 88(3-4), 867-893.
Firpo, S., Fortin, N. M., & Lemieux, T. (2009). Unconditional quantile regressions. Econometrica, 77(3), 953-973.
Fiva, J. H. (2006). New evidence on the effect of fiscal decentralization on the size and composition of government spending. FinanzArchiv/Public Finance Analysis, 62(2), 250-280.
Grisorio, M. J., & Prota, F. (2015). The impact of fiscal decentralization on the composition of public expenditure: panel data evidence from Italy. Regional Studies, 49(12), 1941-1956.
Guedes, K. P., & Gasparini, C. E. (2007). Descentralização fiscal e tamanho do governo no Brasil. Economia Aplicada, 11(2), 303-323.
Hayek, F. A. (1945). The use of knowledge in society. The American economic review, 35(4), 519-530.
Jia, J., Guo, Q., & Zhang, J. (2014, março). Fiscal decentralization and local expenditure policy in China. China Economic Review, 28, 107-122.
Kappeler, A., & Välilä, T. (2008). Fiscal federalism and the composition of public investment in Europe. European Journal of Political Economy, 24(3), 562- 570.
Martinez‐Vazquez, J., Lago‐Peñas, S., & Sacchi, A. (2017). The impact of fiscal decentralization: A survey. Journal of Economic Surveys, 31(4), 1095-1129.
Martinez-Vazquez, J., & McNab, R. M. (2003). Fiscal decentralization and economic growth. World development, 31(9), 1597-1616.
Melo, C. A. V. D., Souza, S. S. D., & Bonfim, W. L. D. S. (2015). Federalismo e bons governos: uma análise política da gestão fiscal dos municípios. Opinião Pública, 21(3), 673-692.
Mendes, M. (2005). Capture of fiscal transfers: a study of Brazilian local governments. Economia aplicada, 9(3), 427-444.Mosca, I. (2006). Is decentralisation the real solution? A three country study. Health policy, 77(1), 113-120.
Musgrave, R. A. (1959). Theory of public finance; a study in public economy. New York, NY: McGraw- Hill.
Neyapti, B. (2013). Fiscal decentralization, fiscal rules and fiscal discipline. Economics Letters, 121(3), 528-532.
Oates, W. E. (1972). Fiscal federalism. New York, NY: Harcourt Brace Jovanovich.
Oates, W. E. (1985). On the nature and measurement of fiscal illusion: a survey. In G. Brennan, B. S. Grewal, & P. Groenewegen (Eds.), Taxation and fiscal federalism: essays in honour of Russell Mathews (pp. 65-82). Sydney, Australia: Australian National University Press.
Oates, W. E. (1988). On the measurement of congestion in the provision of local public goods. Journal of Urban Economics, 24(1), 85-94.
Pansani, D. A., Serrano, A. L. M., & Ferreira, L. O. G. (2020). Análise de evidências e causas do efeito flypaper e da ilusão fiscal nos Estados e municípios brasileiros. Administração Pública e Gestão Social, 12(3), 1-19.
Rodríguez-Pose, A., Tijmstra, S. A., & Bwire, A. (2009). Fiscal decentralisation, efficiency, and growth. Environment and Planning A, 41(9), 2041- 2062.
Rogoff, K. (1990). Equilibrium political budget cycles. The American Economic, 80(1), 21-36.
Rogoff, K., & Sibert, A. (1988). Elections and macroeconomic policy cycles. The review of economic studies, 55(1), 1-16.
Sacchi, A., & Salotti, S. (2016). A comprehensive analysis of expenditure decentralization and of the composition of local public spending. Regional Studies, 50(1), 93-109.
Sakurai, S. N. (2009). Ciclos políticos nas funções orçamentárias dos municípios brasileiros: uma análise para o período 1990-2005 via dados em painel. Estudos Econômicos (São Paulo), 39(1), 39-58.
Sakurai, S. N. (2013). Efeitos assimétricos das Transferências Governamentais sobre os gastos públicos locais: evidências em painel para os municípios brasileiros. Pesquisa e Planejamento Econômico, 43(2), 309-332.
Smith, H. J. M. (2012). Fiscal decentralization and development: an analysis of city governments in Argentina and Mexico, 1980-2010 (Tese de Doutorado). Florida International University, Miami, FL.
Thiessen, U. (2003). Fiscal decentralisation and economic growth in high‐income OECD Countries. Fiscal studies, 24(3), 237-274.
Tiebout, C. M. (1956). A pure theory of local expenditures. Journal of political economy, 64(5), 416-424.
Tufte, E. R. (1978). Political control of the economy. Princeton, NJ: Princeton University Press.
Videira, R. A., & Mattos, E. (2011). Ciclos políticos eleitorais e a interação espacial de políticas fiscais entre os municípios brasileiros. Economia Aplicada, 15(2), 259-286.
Weingast, B. R. (2014, janeiro). Second generation fiscal federalism: Political aspects of decentralization and economic development. World Development, 53, 14-25.