Incentivos eleitorais e o gerenciamento de resultados orçamentários por meio de restos a pagar
Conteúdo do artigo principal
Resumo
O objetivo desta pesquisa é analisar o efeito dos ciclos políticos eleitorais sobre o gerenciamento de resultados orçamentários por meio de restos a pagar nos municípios brasileiros. Ao assinalar como lacuna empírico-teórica as incipientes métricas de qualidade da informação contábil no ambiente governamental, embasado na teoria da agência, da legitimidade e do gerenciamento de impressão, propõe-se um modelo de estimativa de accruals orçamentários discricionários, captados por meio do carry-over do tipo restos a pagar. Para isso, valemo-nos da teoria dos ciclos políticos para justificar o comportamento cíclico oportunista do gestor, em razão do calendário eleitoral. A partir de uma amostra contemplando 62,1% dos municípios brasileiros, foram testadas três hipóteses embasadas na literatura. Os resultados evidenciaram accruals orçamentários discricionários positivos nos anos imediatamente anteriores aos pleitos democráticos e sua reversão – accruals orçamentários discricionários negativos – em anos eleitorais, perfazendo o ciclo eleitoral orçamentário. Além disso, demonstra-se que os gestores em primeiro mandato estão mais inclinados a ingressar nesse tipo de prática, motivados pelas chances de sua recondução ao cargo, a despeito do sucesso no pleito, denotando que os prefeitos estão mais dispostos a adotar tais práticas durante o primeiro mandato. Essa evidência é ratificada, tendo em vista a não observância de níveis significativos dessa prática no segundo mandato. Em caráter incremental às pesquisas no setor público, esta propõe uma proxy de qualidade da informação contábil governamental e comprova que o gerenciamento de resultados, mensurados pelos accruals orçamentários discricionários, tem comportamentos cíclicos em razão do calendário eleitoral previamente estabelecido.
Downloads
Detalhes do artigo
A Revista de Administração Pública (RAP) compromete-se a contribuir com a proteção dos direitos intelectuais do autor. Nesse sentido:
- Adota a licença Creative Commoms BY (CC-BY) em todos os textos que publica, exceto quando houver indicação de específicos detentores dos direitos autorais e patrimoniais;
- Adota software de verificação de similaridade de conteúdo - plagiarismo (Crossref Similarity Check);
- Adota ações de combate ao plagio e má conduta ética, alinhada às diretrizes do Committee on Publication Ethics (COPE).
Mais detalhes do Código de Ética adotado pela RAP podem ser visualizados em Normas Éticas e Código de Conduta.
Referências
Alesina, A., & Perotti, R. (1996). Fiscal discipline & the budget process. American Economic Review, 86(2), 401-407. Recuperado de https://www.jstor.org/stable/2118160
Alt, J. B., Mesquita, E., & Rose, S. (2011). Disentangling accountability and competence in elections: evidence from U.S. term limits. The Journal of Politics, 73(1), 171-186. Recuperado de https://doi.org/10.1017/s0022381610000940
Alves, D. P. (2011). Carry-over: a flexibilização do princípio da anualidade orçamentária como indutora da qualidade do gasto público e da transparência fiscal. In Coletânea de Monografias do 17º Prêmio Tesouro Nacional, Brasília, DF. Recuperado de https://premios.tesouro.gov.br/stn2011
Aquino, A. C. B., & Azevedo, R. R. (2017). Restos a pagar e a perda da credibilidade orçamentária. Revista de Administração Pública, 51(4), 580-595. Recuperado de https://doi.org/10.1590/0034-7612163584
Araújo, R. J. R., & Paulo, E. (2019). Determinantes da qualidade da informação contábil em governos municipais brasileiros. In Anais do 13º Congresso da Associação de Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, São Paulo, SP. Recuperado de https://anpcont.org.br/pdf/2019_CPT201.pdf
Araújo, R. J. R., Queiroz, D. B., Paulo, E., & Nobre, C. J. F. (2020). A relação da natureza das transferências governamentais e a responsabilidade fiscal dos governos municipais brasileiros. Revista Contabilidade, Gestão e Governança, 23(1), 124-140. Recuperado de https://revistacgg.org/index.php/contabil/article/view/2107
Arvate, P. R., & Biderman, C. (2005). Economia do setor público do Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier.
Arvate, P. R., Avelino, G., & Lucinda, C. R. (2008). Existe influência da ideologia sobre o resultado fiscal dos governos estaduais brasileiros? Estudos Econômicos, 38(4), 789-814. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0101-41612008000400004
Besley, T., & Case, A. (1995). Does electoral accountability affect economic policy choices? Evidence from gubernatorial term limits. The Quarterly Journal of Economics, 110(3), 769-798. Recuperado de https://doi.org/10.2307/2946699
Brender, A., & Drazen, A. (2005). Political budget cycles in new versus established democracies. Journal of Monetary Economics, 52(7), 1271-1295. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.jmoneco.2005.04.004
Caiden, N. (1982). The myth of the annual budget. Public Administration Review, 42(6), 516-523. Recuperado de https://doi.org/10.2307/976121
Carreirão, Y. (2004). A eleição presidencial de 2002: uma análise preliminar do processo e dos resultados eleitorais. Revista de Sociologia e Política, 22, 179-194. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0104-44782004000100013
Carreirão, Y. (2007). Relevant Factors for the voting decision in the 2002 presidential election: an analysis of the Eseb (Brazilian Electoral Study) data. Brazilian Political Science Review, 1(1), 70-101. Recuperado de http://socialsciences.scielo.org/pdf/s_bpsr/v1nse/scs_a05.pdf
Carreirão, Y., & Barbetta, P. (2004). A eleição presidencial de 2002: a decisão do voto na região da Grande São Paulo. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 19(56), 75-93. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0102-69092004000300006
Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988. (1988). Brasília, DF. Recuperado de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
Costa, A. S. (2009). Direito eleitoral (8a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Lumen Juris.
Dechow, P. M., Ge, W.., & Schrand, C. M. (2010). Understanding earnings quality: a review of proxies, their determinants and consequences. Journal of Accounting and Economics, 50(2-3), 344-401. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.jacceco.2010.09.001
Dowling, J., & Pfeffer, J. (1975). Organisational legitimacy: social values and organisational behavior. Pacific Sociological Review, 18(1), 122-136. Recuperado de https://doi.org/10.2307/1388226
Downs, A. (1957). An economic theory of political action in a democracy. The Journal of Political Economy, 65(2), 135-150. Recuperado de https://doi/10.1086/257897
Drazen, A., & Eslava, M. (2005). Electoral manipulation via expenditure composition: theory and evidence (NBER Working Paper, 11085). Cambridge, MA: National Bureau of Economic Research. Recuperado de https://doi/10.3386/w11085
D’Azevedo, L. C., & Campos, M. M. (2019). Abuso de poder nas eleições municipais: uma análise das decisões dos tribunais regionais eleitorais. Brazilian Journal of Empirical Legal Studies, 6(2), 35-57. Recuperado de https://reedrevista.org/reed/article/view/308
Emenda Constitucional nº 16, de 04 de junho de 1997. (1997). Dá nova redação ao § 5º do art. 14, ao caput do art. 28, ao inciso II do art. 29, ao caput do art. 77 e ao art. 82 da Constituição Federal. Brasília, DF. Recuperado de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc16.htm
Flynn S., & Pessoa, M. (2014). Prevention and management of government expenditure arrears. Washington, DC: International Monetary Fund. Recuperado de https://www.imf.org/external/pubs/ft/tnm/2014/tnm1403.pdf
Gardner, W. L., & Paolillo, J. G. P. (1999). A taxonomy of organizational impression management tactics. Advances in Competitiveness Research, 7(1), 108-130.
Healy, P. M., & Wahlen, J. M. (1999). A review of the earnings management literature and its implications for standard setting. Accounting Horizons, 13(4), 365-383. Recuperado de https://doi.org/10.2308/acch.1999.13.4.365
Irwin, T. C. (2012). Accounting devices and fiscal illusions (IMF Staff Discussion Note 12/02). Washington, DC: International Monetary Fund. Recuperado de https://www.imf.org/external/pubs/ft/sdn/2012/sdn1202.pdf
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. (2021). Municípios brasileiros. Brasília, DF: Autor.
Jensen, M. C., & Meckling, W. H. (1976). Theory of the firm: managerial behavior, agency costs and ownership structure. Journal of Financial Economics, 3(4), 305-360. Recuperado de https://doi.org/10.1016/0304-405X(76)90026-X
Joyce, P. G. (2008). Does more (or even better) information lead to better budgeting? A new perspective. Journal of Policy Analysis and Management, 27(4), 945-975. Recuperado de https://doi.org/10.1002/pam.20389
Klein, F. A. (2010). Reelection incentives and political budget cycle: evidence from Brazil. Revista de Administração Pública, 44(2), 283-337. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0034-76122010000200006
Klein, F. A., & Sakurai, S. N. (2015). Term limits and political budget cycles at the local level: evidence from a young democracy. European Journal of Political Economy, 37, 21-36. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.ejpoleco.2014.10.008
Kneebone, R. D., & McKenzie, K. (2001). Electoral and partisan cycles in fiscal policy: an examination of Canadian provinces. International Tax and Public Finance, 8(5-6), 753-774. Recuperado de https://doi.org/10.1023/A:1012895211073
Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. (1964). Estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal. Brasília, DF. Recuperado de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm
Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. (2000). Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Brasília, DF. Recuperado de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm
Lei Complementar nº 131, de 27 de maio de 2009. (2009). Acrescenta dispositivos à Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências, a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Brasília, DF. Recuperado de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp131.htm
Liebman, J. B., & Mahoney, N. (2017). Do expiring budgets lead to wasteful yearend spending? Evidence from federal procurement. American Economic Review, 107(11), 3510-3549. Recuperado de https://doi.org/10.1257/aer.20131296
Lienert, I., & Sarraf, F. (2001). Systemic weaknesses of budget management in anglophone Africa (IMF Working Paper 01/211). Washington, DC: International Monetary Fund. Recuperado de https://www.imf.org/external/pubs/ft/wp/2001/wp01211.pdf
List, J. A., & Sturm, D. M. (2006). How elections matter: theory and evidence from environmental policy. The Quarterly Journal of Economics, 121(4), 1249-1281. Recuperado de https://www.jstor.org/stable/25098826
Martinez, A. L. (2001). Gerenciamento de resultados contábeis: estudo empírico das companhias abertas brasileiras (Tese de Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. Recuperado de https://doi.org/10.11606/T.12.2002.tde-14052002-110538
McRae, D. (1977). A political model of the business cycle. Journal of Political Economy, 85(2), 239-263. Recuperado de https://www.jstor.org/stable/1830790
Mendes, M. J. (2009). Sistema orçamentário brasileiro: planejamento, equilíbrio fiscal e qualidade do gasto público. Cadernos de Finanças Públicas, 9, 57-102. Recuperado de http://repositorio.enap.gov.br/handle/1/3858
Nicolau, J. (2007). An analysis of the 2002 presidential elections using logistic regression. Brazilian Political Science Review, 1(1), 125-135. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1981-3826200700010006
Nordhaus, W. D. (1975). The political business cycle. Review of Economic Studies, 42(2), 169-190. Recuperado de https://doi.org/10.2307/2296528
Orair, R. O., Gouvêa, R. R., & Leal, E (2014). Ciclos políticos eleitorais e investimentos das administrações públicas no Brasil. Brasília, DF: Ipea.
Paulo, E. (2007). Manipulação das informações contábeis: uma análise teórica e empírica sobre os modelos operacionais de detecção de gerenciamento de resultados (Tese de Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. Recuperado de https://doi.org/10.11606/T.12.2007.tde-28012008-113439
Peasnell, K. V., Pope, P. F., & Young, S. (2000) Detecting earnings management using cross-sectional abnormal accruals models. Accounting and Business Research, 30(4), 313-326. Recuperado de https://doi.org/10.1080/00014788.2000.9728949
Peltzman, S. (2003). Voters as fiscal conservatives. The Quarterly Journal of Economics, 107(2), 327-261. Recuperado de https://doi.org/10.2307/2118475
Poterba, J. M. (1996). Budget institutions and fiscal policy in the U.S. States. The American Economic Review, 86(2), 395-400. Recuperado de https://www.jstor.org/stable/2118159
Queiroz, D. B. (2015). Composição dos gastos públicos e resultados eleitorais: um estudo nos municípios brasileiros (Tese de Doutorado) Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN. Recuperado de http://dx.doi.org/10.26512/2015.11.T.19215
Quintaneiro, T., Barbosa, M. L. O., & Oliveira, M. G. M. (2003). Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber (2a ed.). Belo Horizonte, MG: Editora UFMG.
Rakhman, F.; & Wijayana, S. (2019). Determinants of financial reporting quality in the public sector: evidence from Indonesia. The International Journal of Accounting, 54(3), 1950009. Recuperado de https://doi.org/10.1142/S1094406019500094
Rogoff, K. (1990). Equilibrium political budget cycles. The American Economic Review, 80(1), 21-36. Recuperado de https://www.jstor.org/stable/2006731
Rogoff, K., & Sibert, A. (1988). Elections and macroeconomic policy cycles. Review of Economic Studies, 55(1), 1-16. Recuperado de https://doi.org/10.2307/2297526
Rose, S. (2006). Do fiscal rules dampen the political business cycle? Public Choice, 128(3-4), 407-431. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11127-005-9007-7
Sakurai, S. N., & Gremaud, A. P. (2007). Political business cycles: evidências empíricas para os municípios paulistas (1989-2001). Estudos Econômicos, 11(1), 27-54. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S1413-80502007000100002.
Schipper, K. (1989). Commentary on earnings management. Accounting Horizons, 3(4), 91-102.
Shi, M., & Svensson, J. (2006). Political budget cycles: do they differ across countries and why? Journal of Public Economics, 90(8-9), 1367-1389. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.jpubeco.2005.09.009
Silva, A. M. A., Cândido, J. O., Jr., & Geraldo, J. C. (2007). Restos a pagar: implicações sobre a sustentabilidade fiscal e a qualidade do gasto público. Brasília, DF: Secretaria de Orçamento Federal.
Simon, H. A. (1957). Models of man: social and rational. New York, NY: John Wiley.
Spence, M. (1973). Job market signaling. The Quarterly Journal of Economics, 87(3), 355-374. Recuperado de https://doi.org/10.2307/1882010