Emiliano Lobo de Godoi

 

No último dia 30 de novembro teve início a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a chamada COP 28. Desde 1995 a ONU promove anualmente essa reunião com o objetivo de encontrar soluções para os problemas ambientais que afetam o planeta e negociar acordos. Tais questões são urgentes já que o planeta está aquecendo mais rapidamente do que em qualquer outro momento registrado em nossa história. Assim, o que nos resta a fazer, é negociar e reduzir a quantidade de CO2 na atmosfera.

Neste contexto, a principal pauta do COP 28, que ocorre em Dubai, capital dos Emirados Árabes Unidos, é tratar da transição energética. Esse processo consiste em substituir combustíveis fósseis, como petróleo, gás natural e carvão, que são grandes emissores de Carbono (CO2) na atmosfera, para fontes renováveis, como sol, água, vento e biomassa, que emitem menos gases de efeito estufa.

Entretanto, falar em transição energética em Dubai é como chamar um vegano para almoçar em uma churrascaria. A base da economia desse país é o petróleo, que produz em torno de 3 milhões de barris por dia. Além disso, o presidente da conferência, sr. Sultan al-Jaber, que também é ministro da Indústria e Tecnologia dos Emirados, e que também encontra tempo para ser o chefe da gigantesca estatal do petróleo “Abu Dhabi National Oil Company”, afirmou recentemente que "não há ciência indicando a necessidade de eliminar os combustíveis fósseis para limitar o aquecimento global a 1,5°C”.

Nada mais contraditório para uma Conferência do Clima que se propõe a reduzir o consumo de combustível fóssil.

Por outro lado, o governo brasileiro, país que possui um dos maiores capitais naturais do planeta, chegou anunciando, em bonitas palavras, que “é lamentável que acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) ou os Acordos de Paris (2015) não sejam implementados”. Apesar do discurso, e na contramão das palavras ditas, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou que o Brasil deve ingressar na Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) em janeiro de 2024. Essa informação foi confirmada pelo presidente do Brasil, que informou que o país fará a adesão, mas que país não vai “apitar nada”. Em outras palavras disse que vai fumar, mas não vai tragar.

Asfaltando ainda mais a estrada do combustível fóssil, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), realizou, dia 13 dezembro, um dia após o encerramento da COP 28, o leilão de 603 novos blocos de exploração de petróleo, sendo seis áreas para trabalhos do pré-sal nas Bacias de Santos e Campos. Nada mais contraditório para um país que busca a liderança no processo de transição energética.

Com esse clima de incoerências, as mudanças climáticas são a única certeza em nosso horizonte.

Sobre o autor:

Emiliano Lobo de Godoi é professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás

 

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