Emiliano Lobo de Godoi

 

Em 2024, os brasileiros terão mais uma chance de definir seus representantes municipais nos poderes executivo e legislativo. Os eleitores escolherão os prefeitos, vice-prefeitos e vereadores dos 5.568 municípios do país. Será mais uma oportunidade para ouvir com atenção quais são suas propostas, compromissos e quais temas serão tratados de forma prioritária. Essa é a oportunidade para lembrar que problemas ambientais não ocorrem na União ou nos estados e, sim, se concretizam nos municípios.

E, nesse contexto, falar de saneamento é básico.

A palavra saneamento vem do latim “Sanus”, que significa boa saúde, saudável, sadio. Para a legislação, saneamento básico é o conjunto de serviços públicos, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e drenagem das águas pluviais. São assuntos que afetam diretamente toda a população do país, e, saber o que nossos representantes pensam e se comprometem a respeito disso, é básico.

Em 2015, com a chancela do Brasil, a ONU estabeleceu como uma das metas de Desenvolvimento Sustentável, atingir, até 2030, acesso universal e equitativo à água potável, ao saneamento e o fim da defecação a céu aberto. Entretanto, os dados do censo do saneamento básico do IBGE, divulgados no último dia 23 de fevereiro, mostram que ainda temos um longo caminho a percorrer. E pensar sobre isso é básico.

Os resultados da pesquisa mostram que, apesar da melhora em relação ao ano de 2010, nosso ritmo é ainda muito lento e muito distante dos objetivos estabelecidos. Em 2022, o Brasil tinha 49 milhões de pessoas em residências sem descarte adequado de esgoto (24% da população), 18 milhões sem coleta de lixo (9%), 6 milhões sem abastecimento de água adequado (3%) e 1,2 milhão sem banheiro ou sequer um sanitário (0,6%).

Os números ainda mostram uma diferença gritante entre as regiões do país. Enquanto na Região Sudeste 82% da população possuem sistema de coleta e tratamento de esgoto, na região Norte, onde fica nosso principal patrimônio natural, que é a Floresta Amazônica, apenas 14% possuem esse serviço. A preocupação global de tratar o esgoto dessa população deveria ser a mesma que se tem para cuidar da floresta.

As eleições de 2024 são, portanto, uma boa oportunidade para tentar reverter esse quadro. Afinal, são os nossos representantes quem conduzem nossas cidades. Para tanto, é necessário promover também um saneamento nos poderes executivos e legislativos, limpando-os de pessoas que só pensam em si e colocando pessoas que pensam em nós. Despertar para isso é básico.

*Este texto não reflete necessariamente as opiniões do Gestão, Política & Sociedade.

Mais sobre o autor:

Emiliano Lobo de Godoi é Professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás

 

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