Eduardo Picanço Cruz

Roberto Pessoa de Queiroz Falcão

Michel Mott Machado

 

No início desse movimento, apenas as poucas pessoas que falavam o idioma local se aventuravam nessa empreitada, porém, com o passar dos anos, os brasileiros, que decidiram se instalar definitivamente em outros países, criaram a oportunidade para que parentes e amigos pudessem traçar a mesma jornada, usando o suporte daqueles desbravadores. Hoje, a comunicação global e a presença maciça de brasileiros no mundo (4,5 milhões em 2022, de acordo com o Itamaraty), permitem a mobilidade de nossos concidadãos das mais diferentes classes sociais e qualificações profissionais. As principais comunidades brasileiras no exterior, em 2022, de acordo com o Itamaraty são as seguintes:

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Claro que a competitividade do mundo favorece a permanência do imigrante mais qualificado. Mas um fenômeno estudado pelo Grupo de Pesquisa Empreendedorismo Étnico e de Imigrantes (http://mpeinternacional.uff.br/) – liderado pelo Professor Eduardo Picanço Cruz –, há mais de 10 anos, tem favorecido os brasileiros, principalmente os menos abastados, a conseguirem superar dificuldades e se estabilizarem financeiramente no exterior. Trata-se do empreendedorismo de imigrantes.

De acordo com nossos estudos teóricos e entrevistas com mais de 300 empresários brasileiros pelo mundo (EUA, Canadá, Austrália, Portugal, Alemanha, BENELUX, Países Nórdicos etc.), as micro e pequenas empresas étnicas não exigem funcionários com qualificações excepcionais e, tampouco, alta capacidade de falar o idioma local, uma vez que muitos desses empreendimentos estão voltados à venda de produtos e/ou prestação de serviços para a própria comunidade brasileira local. Desse modo, conhecer “nossa maneira de fazer as coisas” é o mais importante.

Mas, antes de entrar em um site de viagens e adquirir sua passagem “definitiva” para o exterior, é recomendável entender algumas coisas:

  • A capacidade de “fazer dinheiro” é particular a cada país, ou seja, não espere conseguir um emprego, por exemplo, em Portugal, que ganhe a mesma quantidade que você ganharia nos Estados Unidos da América;
  • Embora o empreendedorismo seja um caminho viável para a estabilidade econômica do imigrante, um período de adaptação ao ambiente de negócios pode ser útil. Por isso é interessante, por exemplo, um tempo trabalhando localmente para entender melhor a dinâmica local dos negócios;
  • Estar consciente e disposto a mudar o padrão de vida no início de sua jornada. Diversos brasileiros de classe média e alta relataram que trabalharam limpando casa ou na construção civil, quando chegaram no exterior. Isso é normal e devemos estar preparados;
  • Não se iludir com a perspectiva de trabalhar pouco e ganhar muito. Diversos empresários relataram que trabalham muito (seis dias por semana), mas que consideram a qualidade de vida no exterior, de um modo geral, melhor do que no Brasil. É estranho e contraditório trabalhar tanto e considerar que sua vida tem mais qualidade, mas a sensação que temos é que não se trata apenas de uma relação “trabalho x lazer”, eles percebem algo além disso.

Também, infelizmente, estamos a acompanhar casos de xenofobia (por exemplo, em Portugal) que têm levado brasileiros a desistirem da jornada. Sem dúvida não é uma escolha que trará facilidades, nem será o sonho encantado que muitos acreditam quando curtem as fotos em redes sociais dos parentes e/ou amigos/colegas/conhecidos que estão morando fora do Brasil.  

Lançar-se em uma saída definitiva do Brasil deve ser uma decisão consciente e da família, pois os castelos da Europa ou os dólares estadunidenses não são a realidade da maioria dos imigrantes. Mas é a comunidade brasileira, em cada cidade do exterior, que pode oferecer uma condição mais segura para o acolhimento de outros brasileiros, ou seja, “a força da comunidade local” que abrirá oportunidades de trabalho e de negócios.

No que se refere às diferentes localidades, o Itamaraty estima a população brasileira da seguinte maneira:

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Nosso monitoramento mostra que junto com o crescimento dessas comunidades, também cresce o número de negócios. Isso significa que, no futuro, novas oportunidades serão apresentadas para os brasileiros que queiram “desbravar o mundo”. Isso, também, convida-nos a refletir sobre as oportunidades que o nosso próprio país nos oferece, bem aqui onde estamos.

Mais sobre os autores:

Eduardo Picanço Cruz é Doutor em Engenharia Química (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Professor no Departamento de Empreendedorismo e Gestão – Universidade Federal Fluminense.

Roberto Pessoa de Queiroz Falcão é Doutor em Administração (IAG Escola de Negócios – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). Professor no PPGA – UNIGRANRIO.  

Michel Mott Machado é Doutor em Administração de Empresas (PPGA-Mackenzie), com pós-doutorado em Business and Society (York University). Professor no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas – Universidade Presbiteriana Mackenzie.

 

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