Fóruns de accountability síncrona: a dinâmica interna das audiências públicas orçamentárias
Conteúdo do artigo principal
Resumo
As audiências públicas orçamentárias são espaços de transparência e participação social. Esses espaços podem ser considerados fóruns de accountability síncrona, em que a prestação de contas e a responsabilização podem ocorrer no mesmo momento, o que gera preocupação para o prestador de contas quanto às possíveis formas de responsabilização. Esta pesquisa teve como objetivo analisar como ocorre a dinâmica das audiências públicas orçamentárias organizadas pelas prefeituras municipais. Foi realizada uma pesquisa qualitativa interpretativista, por meio de entrevistas semiestruturadas com gestores públicos como principal fonte de coleta. Os resultados indicam que os responsáveis pelas audiências públicas adotam estratégias para minimizar os riscos reputacionais e de responsabilização. As estratégias ocorrem em diferentes momentos: (i) na etapa de preparação, com a definição das regras de participação e o uso de filtro informacional; (ii) durante a sua realização, na forma de apresentação das informações e no direcionamento de atenção do público; e (iii) na etapa pós-audiência, por meio de baixa transparência e até manipulação de documentos. A pesquisa contribui para o entendimento das audiências como fóruns de accountability esperada, em que a expectativa do prestador de contas pode direcionar a dinâmica das audiências públicas, transformando-as em um teatro. Os resultados trazem implicações para os Tribunais de Contas e o Poder Legislativo, que poderiam exercer maior controle e fiscalização das audiências; para a sociedade, que poderia atuar de forma mais ativa e organizada; e, ainda, para a legislação em vigor, que poderia estabelecer diretrizes claras para a realização das audiências.
Downloads
Detalhes do artigo
A Revista de Administração Pública (RAP) compromete-se a contribuir com a proteção dos direitos intelectuais do autor. Nesse sentido:
- Adota a licença Creative Commoms BY (CC-BY) em todos os textos que publica, exceto quando houver indicação de específicos detentores dos direitos autorais e patrimoniais;
- Adota software de verificação de similaridade de conteúdo - plagiarismo (Crossref Similarity Check);
- Adota ações de combate ao plagio e má conduta ética, alinhada às diretrizes do Committee on Publication Ethics (COPE).
Mais detalhes do Código de Ética adotado pela RAP podem ser visualizados em Normas Éticas e Código de Conduta.
Referências
Abranches, S. (2018). Presidencialismo de coalizão: raízes e evolução do modelo político brasileiro. São Paulo, SP: Companhia das Letras.
Azevedo, R. R., & Aquino, A. C. B. (2016). O planejamento em municípios de pequeno porte em São Paulo. Revista de Contabilidade e Organizações, 10(26), 63-76. Recuperado de https://doi.org/10.11606/rco.v10i26.111202
Behr, D., Kaczmirek, L., Bandilla, W., & Braun, M. (2012). Asking probing questions in web surveys: which factors have an impact on the quality of responses? Social Science Computer Review, 30(4), 487-498. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0894439311435305
Bogner, A., Littig, B., & Menz, W. (2009). Introduction: expert interviews – an introduction to a new methodological debate. In A. Bogner, B. Littig, & W. Menz (Eds.), Interviewing Experts (Research Methods Series, pp. 1-13). London, UK: Palgrave Macmillan. Recuperado de https://doi.org/10.1057/9780230244276_1
Bohman, J., & Rehg, W. (1997). Deliberative democracy: essays on reason and politics. Debates in contemporary political philosophy. Cambridge, MA: MIT Press.
Bovens, M. (2007a). New forms of accountability and EU-governance. Comparative European Politics, 5(1),104-120. Recuperado de https://doi.org/10.1057/palgrave.cep.6110101
Bovens, M. (2007b). Analysing and assessing accountability: a conceptual framework. European Law Journal, 13(4), 447-468. Recuperado de https://doi.org/10.1111/j.1468-0386.2007.00378.x
Bragatti, M. R., Nascimento, V. L., & Carvalho, L. R. (2021). Um estudo sobre a percepção e participação popular nas audiências públicas realizadas no município de Nova Mutum - MT. Revista UNEMAT de Contabilidade, 10(19), 83-108. Recuperado de https://doi.org/10.30681/ruc.v10i19.4205
Brelàz, G., & Alves, M. A. (2013). O processo de institucionalização da participação na Câmara Municipal de São Paulo: uma análise das audiências públicas do orçamento (1990-2010). Revista de Administracao Publica, 47(4), 803-826. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0034-76122013000400001
Brummel, L. (2021). Social accountability between consensus and confrontation: developing a theoretical framework for societal accountability relationships of public sector organizations. Administration & Society, 53(7), 1046-1077. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0095399720988529
Busuioc, E. M., & Lodge, M. (2016). The reputational basis of public accountability. Governance, 29(2), 247-263. Recuperado de https://doi.org/10.1111/gove.12161
Busuioc, E. M., & Lodge, M. (2017). Reputation and accountability relationships: managing accountability expectations through reputation. Public Administration Review, 77(1), 91-100. Recuperado de https://doi.org/10.1111/puar.12612
Buttny, R. (2010). Citizen participation, metadiscourse, and accountability: a public hearing on a zoning change for wal-mart. Journal of Communication, 60(4), 636-659. Recuperado de https://doi.org/10.1111/j.1460-2466.2010.01507.x
Checkoway, B. (1981). The politics of public hearings. The Journal of Applied Behavioral Science, 17(4), 566-582. Recuperado de https://doi.org/10.1177/002188638101700411
Cornwall, A., & Coelho, V. S. P. (2007). Spaces for change? The politics of citizen participation in new democratic arenas. London, UK: Zed Books.
Corona, V. P. (2007). Voices and visions of Lower Manhattan: organizing civic expression in post-9/11 public hearings. Journal of Civil Society, 3(2),119-135. Recuperado de https://doi.org/10.1080/17448680701554217
Costa, D. M. D. (2010). Vinte anos de orçamento participativo: análise das experiências em municípios. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, 15(56), 8-28. Recuperado de https://doi.org/10.12660/cgpc.v15n56.3190
Davidson, C. (2009). Transcription: imperatives for qualitative research. International Journal of Qualitative Methods, 8(2), 35-52. Recuperado de https://doi.org/10.1177/160940690900800206
Ebdon, C. (2002). Beyond the public hearing: citizen participation in the local government budget process. Journal of Public Budgeting, Accounting & Financial Management, 14(2), 273-294. Recuperado de https://doi.org/10.1108/JPBAFM-14-02-2002-B006
Emenda Constitucional nº 86 de 17 de março de 2015. (2015). Altera os arts. 165, 166 e 198 da Constituição Federal, para tornar obrigatória a execução da programação orçamentária que especifica. Brasília, DF. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc86.htm
Eschenfelder, K. R. (2004). Behind the web site: an inside look at the production of web-based textual government information. Government Information Quarterly, 21(3), 337-358. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2004.04.004
Esin, C., Fathi, M., & Squire, C. (2014). Narrative analysis: the constructionist approach. In U. Flick (Ed.), The SAGE Handbook of Qualitative Data Analysis (pp. 203-216). Thousand Oaks, CA: SAGE Publications.
Fonseca, I. F., Rezende, R. R., Oliveira, M. S., & Pereira, A. K. (2014). Audiências públicas: fatores que influenciam seu potencial de efetividade no âmbito do Poder Executivo Federal. Revista do Serviço Público, 64(1), 7-29. Recuperado de https://doi.org/10.21874/rsp.v64i1.113
Gaber, I. (2000). Lies, damn lies... and political spin. British Journalism Review, 11(1), 60-70. Recuperado de https://doi.org/10.1177/095647480001100111
Graton, L. H. T., Bonacim, C. A. G., & Sakurai, S. N. (2020). Práticas de barganha política por meio da execução orçamentária federal. Revista de Administração Pública, 54(5), 1361-1381. Recuperado de https://doi.org/10.1590/0034-761220190399
Grimmelikhuijsen, S. (2011). Being transparent or spinning the message? An experiment into the effects of varying message content on trust in government. Information Polity, 16(1), 35-50. Recuperado de https://doi.org/10.3233/IP-2011-0222
Hall, A. T., Frink, D. D., & Buckley, M. R. (2017). An accountability account: a review and synthesis of the theoretical and empirical research on felt accountability. Journal of Organizational Behavior, 38(2), 204-224. Recuperado de https://doi.org/10.1002/job.2052
Hartz-Karp, J., & Briand, M. K. (2009). Institutionalizing deliberative democracy. Journal of Public Affairs, 9(2), 125-141. Recuperado de https://doi.org/10.1002/pa.320
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2019). Perfil dos Municípios Brasileiros: 2019. Rio de Janeiro, RJ: Autor.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. (2019). Ipeadata. Disponível em http://ipeadata.gov.br
Jávor, I., & Jancsics, D. (2016). The role of power in organizational corruption: an empirical study. Administration and Society, 48(5), 527-558. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0095399713514845
Kasymova, J. (2017). Understanding the challenges and sustainability of citizen engagement in the budgeting processes of developing countries. Administration and Society, 49(3), 374-393. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0095399714558713
Kennedy, B. L., & Thornberg, R. (2018). Deduction, induction, and abduction. In U. Flick (Ed.), The SAGE Handbook of Qualitative Data Collection (pp. 49-64). Thousand Oaks, CA: SAGE Publications.
Lando, T. (2003). The public hearing process: a tool for citizen participation, or a path toward citizen alienation? National Civic Review, 92(1), 73-82. Recuperado de https://doi.org/10.1002/ncr.7
Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. (2000). Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Brasília, DF. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm
Lino, A. F., & Aquino, A. C. B. (2018). A diversidade dos Tribunais de Contas regionais na auditoria de governos. Revista Contabilidade e Financas, 29(76), 26-40. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1808-057x201803640
Lino, A. F., Azevedo, R. R., Aquino, A. C. B., & Steccolini, I. (2022, março). Fighting or supporting corruption? The role of public sector audit organizations in Brazil. Critical Perspectives on Accounting, 83, 102384. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.cpa.2021.102384
Mahler, J., & Regan, P. M. (2007). Crafting the message: controlling content on agency web sites. Government Information Quarterly, 24(3), 505-521. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2006.06.008
McKinnon, J. (1988). Reliability and validity in field research: some strategies and tactics. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 1(1), 34-54. Recuperado de https://doi.org/10.1108/EUM0000000004619
Ministério Público Federal. (2016). Ranking Nacional dos Portais da Transparência. Brasília, DF: Autor.
Nowell, B., & Albrecht, K. (2019). A reviewer’s guide to qualitative rigor. Journal of Public Administration Research and Theory, 29(2), 348-363. Recuperado de https://doi.org/10.1093/jopart/muy052
Overman, S., & Schillemans, T. (2022). Toward a public administration theory of felt accountability. Public Administration Review, 82(1), 12-22. Recuperado de https://doi.org/10.1111/puar.13417
Patton, M. Q. (2015). Qualitative research & evaluation methods: integrating theory and practice (4a ed.). Thousand Oaks, CA: Sage.
Patz, R., Thorvaldsdottir, S., & Goetz, K. H. (2022). Accountability and affective styles in administrative reporting: the case of UNRWA, 1951-2020. Journal of Public Administration Research and Theory, 32(1), 111-129. Recuperado de https://doi.org/10.1093/jopart/muab024
Piotrowski, S., Grimmelikhuijsen, S., & Deat, F. (2019). Numbers over narratives? How government message strategies affect citizens’ attitudes. Public Performance and Management Review, 42(5), 1005-1028. Recuperado de https://doi.org/10.1080/15309576.2017.1400992
Power, M. K., & Gendron, Y. (2015). Qualitative research in auditing: a methodological roadmap. Auditing, 34(2), 147-165. Recuperado de https://doi.org/10.2308/ajpt-10423
Qu, S. Q., & Dumay, J. (2011). The qualitative research interview. Qualitative Research in Accounting and Management, 8(3), 238-264. Recuperado de https://doi.org/10.1108/11766091111162070
Rapley, T. (2014). Sampling strategies in qualitative research. In U. Flick (Ed.), The SAGE Handbook of Qualitative Data Analysis (pp. 49-64). Thousand Oaks, CA: SAGE Publications.
Rocha, A. C. (2013). A realização da accountability em pareceres prévios do Tribunal de Contas de Santa Catarina. Revista de Administração Pública, 47(4), 901-925. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0034-76122013000400005
Rowe, G., & Frewer, L. J. (2000). Public participation methods: a framework for evaluation. Science Technology and Human Values, 25(1), 3-29. Recuperado de https://doi.org/10.1177/016224390002500101
Sacramento, A. R. S., & Pinho, J. A. G. (2016). The process of implementing answerability in contemporary Brazil. Revista de Administração Pública, 50(2), 193-213. Recuperado de https://doi.org/10.1590/0034-7612147614
Sander, J. A., & Pedralli, J. R. (2013). As audiências públicas enquanto práticas cerimoniais. Como torná-las de fato públicas? In Anais do 1o Seminário Nacional de Planejamento e Desenvolvimento, Curitiba, PR.
Saunders, B., Sim, J., Kingstone, T., Baker, S., Waterfield, J., Bartlam, B., … Jinks, C. (2018). Saturation in qualitative research: exploring its conceptualization and operationalization. Quality and Quantity, 52(4), 1893-1907. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11135-017-0574-8
Schillemans, T. (2016). Calibrating public sector accountability: translating experimental findings to public sector accountability. Public Management Review, 18(9), 1400-1420. Recuperado de https://doi.org/10.1080/14719037.2015.1112423
Schillemans, T., Overman, S., Fawcett, P., Flinders, M., Fredriksson, M., Laegreid, P., Maggetti, M. et al. (2021). Understanding felt accountability. Governance, 34(3), 893-916. Recuperado de https://doi.org/10.1111/gove.12547
Taylor, J. (2011). The intimate insider: negotiating the ethics of friendship when doing insider research. Qualitative Research, 11(1), 3-22. Recuperado de https://doi.org/10.1177/1468794110384447
Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. (2019). Lei de Responsabilidade Fiscal. São Paulo, SP: Autor.
Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. (2020). COVID 19: Orientações para enfrentamento da crise. São Paulo, SP: Autor.
Topal, C. (2009). The construction of general public interest: risk, legitimacy, and power in a public hearing. Organization Studies, 30(2-3), 277-300. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0170840608101481
Tribunal Superior Eleitoral. (2016). Informações sobre as Eleições 2016 para prefeito, vice-prefeito e vereador. Recuperado de https://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/eleicoes-2016
Watkins, D. C. (2017). Rapid and rigorous qualitative data analysis: the “RADaR” technique for applied research. International Journal of Qualitative Methods, 16(1), 1-9. Recuperado de https://doi.org/10.1177/1609406917712131
Yang, K. (2003). Assessing China’s public price hearings: symbolic aspects. International Journal of Public Administration, 26(5), 497-524. Recuperado de https://doi.org/10.1081/PAD-120019233
Yeong, M. L., Ismail, R., Ismail, N. H., & Hamzah, M. I. (2018). Interview protocol refinement: fine-tuning qualitative research interview questions for multi-racial populations in Malaysia. Qualitative Report, 23(11), 2700-2713. Recuperado de https://doi.org/10.46743/2160-3715/2018.3412
Zorzal, G., & Carlos, E. (2017). Audiências públicas do Legislativo estadual: fatores endógenos e exógenos na análise da efetividade da participação. Revista de Sociologia e Política, 25(64), 23-46. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1678-987317256402